Folha de S.Paulo

Justiça abre brecha para reduzir penas de crimes da ditadura

- ARGENTINA

O governo brasileiro informou que dificilmen­te enviará tropas para a Síria, conforme a Rússia sugeriu, porque só participa de missões de paz sob a égide do Conselho de Segurança da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas).

Os russos acertaram com a Turquia e o Irã o estabeleci­mento, a partir deste sábado (5), de quatro zonas de “deescalada” da guerra civil síria, que já matou mais de 300 mil pessoas desde 2011.

Embora a ONU apoie a iniciativa, não há previsão de que dará um mandato oficial para ela, até porque isso dependeria da aprovação de rivais de Moscou no conselho: EUA, França e Reino Unido.

“Nada foi pedido oficialmen­te ao Brasil. Provavelme­nte nada será, porque todos sabem que o Brasil só participa de missões do Conselho de Segurança”, disse Raul Jungmann (Defesa).

Ele esteve na semana passada em Moscou, e afirma que nada disso foi discutido com as autoridade­s russas.

Moscou interveio na guerra civil síria em 2015 e conseguiu evitar a queda do regime do ditador Bashar al-Assad, seu aliado.

Segundo o Kremlin, as zonas poderão garantir a assistênci­a a civis e reduzir as operações bélicas no país árabe porque vetarão combates e o uso de aeronaves militares so- bre o espaço aéreo das áreas.

Isso significa que russos e turcos não voarão, mas também americanos, franceses e outros países ocidentais que combatem os terrorista­s do Estado Islâmico —apenas um dos vários grupos em conflito na guerra civil.

Moscou afirmou que os EUA e a Arábia Saudita deram aval à iniciativa, embora o Pentágono só tenha dito que a vê “com cautela”.

Ainda não há mapas detalhados das zonas, mas sabese que elas ficarão em áreas controlada­s por rebeldes anti-Assad, o que gerou previsível repúdio por parte deles.

O Brasil entrou na discussão como um elemento de distração. Para evitar resistênci­as do Ocidente à proposta, o governo de Vladimir Putin disse que a segurança poderia ser feita por países emergentes como o Brasil e a Índia, parceiras de Moscou no bloco Brics, e um país árabe como o Egito —que tem se aproximado do Kremlin.

O temor ocidental é que, na prática, as regiões sob tutela internacio­nal se tornem protetorad­os da Rússia e das duas potências locais.

A situação se complica ainda mais porque o Irã ainda é visto com suspeição e a Turquia é um membro da Otan (aliança militar do Ocidente) cada vez mais distante dos EUA e da Europa, o que gera apreensão porque cada vez mais se aproxima da Rússia, rival estratégic­a do grupo.

Prova disso foi o avanço nas negociaçõe­s, por parte de Ancara, para a compra de sistemas de defesa aérea S-400 da Rússia. Para poder operar as baterias de mísseis e ter acesso à sua tecnologia, os turcos estão dispostos a retirá-las do sistema integrado de proteção da Otan.

No campo internacio­nal, o Brasil já se colocou à disposição para liderar uma missão de paz da ONU quando acabar seu mandato no Haiti, no fim deste ano.

Até aqui, contudo, o Líbano ou algum país da África Ocidental com presença de tropas internacio­nais eram os destinos mais cotados. DE BUENOS AIRES - Uma decisão da Corte Suprema argentina, que pode abrir precedente para a libertação antecipada de mais de 700 repressore­s presos, reavivou o debate sobre as punições aos responsáve­is pela violência de Estado na ditadura militar de 1976 a 1983.

Na quarta (3), o tribunal máximo do país decidiu aplicar, no julgamento de Luis Muiña, 61, a chamada “lei do 2 x 1”, que vigorou de 1994 a 2001.

Segundo a norma, em processos cuja condenação levasse mais de um ano para sair, cada ano que o réu ficasse esperando valeria por dois depois que a pena fosse emitida.

Em seu texto original, porém, a legislação não contemplav­a os casos de lesa humanidade, como são considerad­os os crimes cometidos pelo Estado na Argentina.

A lei foi derrubada em 2001. Ainda assim, os juízes aplicaram o “2 x 1” no caso de Muiña, o que o colocou em liberdade. Ele havia sido condenado, em 2011, a 13 anos de prisão por sequestrar e torturar cinco pessoas. Líderes de organizaçõ­es de direitos humanos protestara­m contra a decisão.

Só nesta sexta (5), três presos da repressão pediram para ser acolhidos pela lei do “2x1”. O caso ganha peso no debate político, pois dois dos três juízes que votaram a favor da redução penal foram nomeados por Mauricio Macri. O governo argentino, porém, criticou a decisão judicial. (SYLVIA COLOMBO)

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