CRÍTICA Livro apresenta ONG de trio da Ambev e seus bolsistas
Obra deixa lacunas ao descrever métodos de seleção de jovens apoiados
São altamente motivadoras as histórias da Fundação Estudar e de seus bolsistas narradas em “Cultura de Excelência”, que marca os 25 anos da instituição fundada pelos investidores Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, comandantes de gigantes como AB Inbev e Kraft Heinz.
O livro se propõe a disseminar a “cultura de excelência e transformação” praticada pelos três empresários. Mas não chega a ser um trabalho de excelência.
Para escrevê-lo, o jornalista David Cohen entrevistou 40 bolsistas e teve dezenas de conversas com funcionários, membros do conselho, candidatos a bolsas e participantes dos programas oferecidos pela Estudar.
A fundação não se limita a oferecer bolsas em instituições de ponta ao redor do mundo. Ela também fortalece sua rede para que ex-bolsistas experientes inspirem os novos membros por meio de mentoria.
Na introdução, o autor adianta que contará histórias de “pessoas extraordinárias” e também de “pessoas comuns que fazem coisas extraordinárias”. Nos 24 capítulos seguintes, porém, ele não deixa claro por qual motivo separa as pessoas nessas duas categorias.
Ao fim da leitura, “Cultura de Excelência” é uma repetição de lições já conhecidas sobre a cultura dos fundadores, como a perseguição do sonho grande, o espírito de liderança e a meritocracia.
Os conceitos aparecem em tópicos ao longo do texto na tentativa de organizar os pensamentos do leitor. Mas é na humanização da teoria, feita por meio dos personagens ligados à instituição, que o livro mostra o seu valor.
Além de histórias já batidas como as de Hugo Barra, um dos mais admirados executivos do setor de tecnologia, e de Bernardo Hees, presidente-executivo da Kraft Heinz, o livro apresenta novidades empolgantes como Luis Fernando da Silva Sousa, garoto de origem pobre apoiado pela Estudar que hoje ocupa cargo gerencial na Ambev.
O carisma de Júlia Evangelista é outro exemplo que enfeita o livro. Ao ser questionada, na última etapa da seleção de bolsistas, sobre a falta de foco da nova geração, a jovem esforçada e resiliente respondeu com tamanha perspicácia que cativou a banca. “Sou uma pessoa que tem foco. Eu só mudo muito de foco. Mas, cada vez que mudo, vou com tudo para o meu novo foco”, disse. FACA NOS DENTES