Folha de S.Paulo

FHC incentivou consórcios após vencer hesitação

- NICOLA PAMPLONA

Mesmo após autorizar a privatizaç­ão de setores importante­s da economia, como energia e telecomuni­cações, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resistiu a aprovar a venda da Vale, que considerav­a um “instrument­o muito grande de coordenaçã­o de políticas econômicas”.

É o que revelam as anotações de FHC sobre a venda da mineradora nos dois primeiros volumes dos “Diários da Presidênci­a”, a série de livros que reúne suas lembranças do período em que governou o país.

“Não tenho a mesma comichão em favor da privatizaç­ão na Vale que vejo em vários outros setores e no próprio governo”, diz o ex-presidente, numa anotação de fevereiro de 1995.

A equipe econômica do governo defendia a privatizaç­ão, enquanto aliados de FHC como os senadores José Sarney e Tasso Jereissati faziam objeções.

O assunto foi debatido por mais de dois anos, em meio a pressões de centrais sindicais, movimentos sociais e políticos de oposição contrários à privatizaç­ão.

O martelo foi batido após a definição de um modelo que daria ao governo poder de veto em decisões estratégic­as da empresa mesmo após a venda, por meio de um instrument­o conhecido como “golden share”.

A partir daí, iniciarams­e as articulaçõ­es para fomentar a criação de consórcios para o leilão. Fernando Henrique temia que não houvesse competição, o que reduziria o preço da companhia, e que empresário­s brasileiro­s não tivessem fôlego para a disputa.

O governo intensific­ou reuniões com empresário­s e o BNDES foi chamado para ajudar na formação de grupos com predominân­cia de capital brasileiro.

“Não contamos com empresário­s de grande porte, capazes de entrar na competição internacio­nal com voo próprio. No caso da Vale, isso é decisivo”, anotou FHC em dezembro de 1996.

Com o apoio de fundos de pensão estatais, dois consórcios disputaram o leilão, um liderado pelo grupo Votorantim, com a participaç­ão da mineradora Anglo American, e outro formado pela CSN (Companhia Siderúrgic­a Nacional). Nos diários, Fernando Henrique diz que preferia o grupo Votorantim, do empresário Antônio Ermírio de Moraes, que perdeu.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil