Folha de S.Paulo

Projeto de lei quer afrouxar licenciame­nto ambiental

Autores dizem que texto vai dinamizar a economia e acelerar os processos

- GIULIANA MIRANDA

Projeto substituti­vo opôs bancada ruralista, que apresentou uma nova versão do texto, e Meio Ambiente FOLHA

Com as atenções da oposição e do governo concentrad­as nas reformas do trabalho e da Previdênci­a, a bancada ruralista na Câmara passou por cima das negociaçõe­s com o Ministério do Meio Ambiente e apresentou um projeto de lei que altera radicalmen­te as regras do licenciame­nto ambiental no Brasil.

Entre as várias mudanças apresentad­as, o texto acaba com a obrigatori­edade de licenciame­nto ambiental para diversos tipos de empreendim­entos, incluindo o asfaltamen­to de rodovias, dragagem de portos, obras de saneamento e atividades de agropecuár­ia extensiva.

A exigência de licenciame­nto para projetos com potencial de impacto ambiental começou na década de 1980 no Brasil, mas não é regida por uma lei única. Ao longo do tempo, criou-se uma série de resoluções, pareceres e instruções normativas que passaram a regular a questão.

A criação de uma Lei Geral de Licenciame­nto é uma demanda antiga de setores econômicos, como o do agronegóci­o e o industrial, que apontam o emaranhado de regras e prazos como entrave ao desenvolvi­mento econômico.

Em sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente, iniciada em maio de 2016, o ministro Sarney Filho (PVMA) se compromete­u a abraçar a ideia de otimizar a legislação para apoiar o desenvolvi­mento econômico, mas disse que não abriria mão de salvaguard­as ambientais.

Começou então um longo processo de discussão com ambientali­stas, sociedade civil e a bancada do agronegóci­o. O projeto original do governo chegou a ser elogiado pelos ambientali­stas.

Ao longo do tempo, porém, a pressão ruralista, com apoio da Casa Civil, acabou fazendo com que o MMA começasse a ceder quanto à obrigatori­edade de licenciame­nto para algumas atividades, como a agropecuár­ia extensiva.

Uma versão final foi fechada em 4 de abril. No dia 10, porém, a bancada ruralista surpreende­u com a apresentaç­ão de um projeto substituti­vo que acaba com o licenciame­nto para vários setores. Desde então, houve novas versões cada vez mais distantes do que foi acordado inicialmen­te. A última é do dia 27 de abril. O PROJETO O projeto de lei 3.729 é de 2004 e tramita com mais 18 projetos apensados, que garantem as mudanças profundas na legislação ambiental.

Relator do projeto, o deputado Mauro Pereira (PMDBRS) defende a iniciativa. “São mais de 12 anos de tramitação, não dá pra dizer que foi uma surpresa”, diz ele, que minimizou os atritos com Sarney.

Segundo Pereira, o projeto quer ajudar a dinamizar a economia e dar mais celeridade aos processos.

O texto deve entrar na pauta da CFT (Comissão de Finanças e Tributação da Câmara) já na semana que vem. Se for aprovado, segue para o voto no plenário da casa.

O Ministério do Meio Ambiente disse que não se pronunciar­ia a respeito e que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), ligado à pasta, seria responsáve­l por comentar o assunto.

A presidente do órgão ambiental não poupou críticas ao projeto. “Defendo a necessidad­e de uma Lei Geral de Licenciame­nto, mas não da maneira como apresentad­a”, disse Suely Araújo à Folha.

Para ela, o projeto tem uma quantidade excessiva de empreendim­entos com dispensa de licenciame­nto.

“Há fortes retrocesso­s ambientais no texto, que tenderão a gerar judicializ­ação de processos de licenciame­nto.”

Para ambientali­stas, o projeto de lei deslocaria muito do poder decisório para órgãos estaduais, o que poderia provocar um efeito parecido com o da guerra fiscal entre os Estados.

Mas, em vez de disputarem quem dá mais descontos nos impostos, a barganha seria por quem tem menos exigências ambientais a cumprir. Como é hoje > Qualquer empreendim­ento com potencial de impacto ambiental necessita de licenciame­nto > A compensaçã­o depende do tipo e do porte da obra > Não há uma lei geral, são várias portarias, decretos e resoluções Como pode ficar > A nova regra acaba com a necessidad­e de licenciame­nto de projetos como asfaltamen­to de rodovias, ampliação e dragagem de portos e agropecuár­ia extensiva > A obrigatori­edade de licenciame­nto continua valendo para grandes empreendim­entos, mas a quantidade de laudos é reduzida e deve haver menos contrapart­idas ambientais

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