Da violência não é adequada.
Sua obsessão pelo som é uma crítica a um mundo dominado pelo excesso de imagens?
Estamos mesmo num ambiente movido por imagens, mas elas são decifradas com muita rapidez. Há muito mais trabalho a ser feito em relação ao som, que pode até mesmo tornar as imagens mais fortes.
Há uma crise da imagem, o que faz com que tenhamos que explorar melhor os silêncios, os vestígios. Quando usamos outra economia da imagem, focada no som, impulsionamos a imaginação. Não penso em ver e ouvir como coisas separadas. Sentimos o espaço por uma constelação de sensações, e a imagem é muitas vezes informada pelo som. É difícil desembaraçar esses dois elementos. A julgar por sua obra, terroristas sabem disso muito bem.
Eles sabem usar imagens, mas também criam um imaginário do terror que não é filmado com câmeras. Tudo acontece no escuro, forjando outro tipo de visibilidade, distante da maioria das pessoas. Sua obra seria um ataque à arte mais preocupada com questões estéticas do que com a realidade? Os artistas devem agir mais como cientistas?
Não acho que artistas devam ser cientistas. A arte tem seus próprios métodos para produzir verdades. Enquanto a ciência pode ser muito mais estranha em sua maneira de falar da realidade, um artista ouve mais e olha mais para as coisas, sabe que tudo importa porque é treinado para olhar para aquilo que ninguém vê.
Mesmo a arte pela arte tem seu propósito. No século 17, os holandeses que pintavam paisagens com céus cheios de nuvens não sabiam que essas obras hoje seriam estudadas como evidências meteorológicas. Eles pintavam nuvens porque achavam bonito, mas essas telas são vistas agora quase como documentos.
Nós precisamos da arte pela arte, mas também da arte que ataca, que vai a campo.