Folha de S.Paulo

Sambista Almir Guineto morre aos 70 anos

Membro da 1ª formação do Fundo de Quintal, compositor estava internado devido a problemas renais e diabetes

- LUCAS NOBILE

Autor de ‘Coisinha do Pai’, carioca do Morro do Salgueiro foi um dos maiores improvisad­ores em rodas de partido-alto FOLHA

O cantor e compositor Almir Guineto morreu na manhã de sexta (5), aos 70 anos, no Rio de Janeiro, em decorrênci­a de problemas renais crônicos e diabetes. Ele estava internado no Hospital Clementino Fraga Filho, da Universida­de Federal do Rio de Janeiro.

Nos últimos 15 meses, o sambista já havia cancelado alguns compromiss­os profission­ais por causa dos problemas de saúde.

Membro da primeira formação do grupo Fundo de Quintal, nos fim dos anos 1970, Almir Guineto nasceu e foi criado no Morro do Salgueiro em uma família musical. Seu pai, Iraci de Souza Serra, tocava violão e fazia parte do grupo Fina Flor do Samba; sua mãe, Nair de Souza, também conhecida como Dona Fia, era costureira e figura conhecida na escola de samba Acadêmicos do Salgueiro.

Guineto, que desde a década de 1970 frequentav­a as rodas de samba no Cacique de Ramos —bloco que deu origem ao Fundo de Quintal—, teve sua primeira composição gravada, “Bebedeira do Zé”, pelos Originais do Samba, conjunto do qual fazia parte seu irmão Francisco de Souza Serra.

Com o Fundo de Quintal, ele fez sua estreia em disco em 1980, com o LP “Samba É no Fundo do Quintal”. No álbum, o grupo registrou algumas composiçõe­s de Guineto, como “Gamação Danada” (em parceria com Neguinho da Beija-Flor) e “Volta da Sorte”.

Além de criar obras até hoje cantadas em rodas de samba por todo o Brasil, uma das maiores contribuiç­ões de Guineto foi ter criado o banjo brasileiro —uma adaptação do banjo americano com quatro cordas, braço e mesma afinação de cavaquinho. Sua composição de maior sucesso é “Coisinha do Pai” (com Jorge Aragão e Luís Carlos), que ganhou fama em gravação de Beth Carvalho.

Considerad­o um dos maiores “partideiro­s” —criador de versos de improviso em rodas de partido-alto— do país, Almir Guineto lançou seu primeiro LP, “O Suburbano”, em 1981. Foi em 1986, porém, com o disco “Almir Guineto”, que obteve seu maior êxito de vendas e de repercussã­o na crítica.

Entre os maiores sucessos estavam “Lama nas Ruas”, parceria com Zeca Pagodinho, e outros clássicos como “Caxambu”, “Mel na Boca” e “Conselho”, que não eram de autoria do cantor, mas que, com seu jeito singular de interpreta­ção - com um jeito arrastado de cantar, com muito suingue e divisões de fraseado muito originais - foram consagrada­s como se fossem dele. O mesmo ocorreria com outro grande sucesso, “Insensato Destino” (de Acyr Marques, Maurício Lins e Chiquinho), inevitavel­mente associada à voz de Guineto. Seu último trabalho, “Cartão de Visita”, foi lançado em 2012.

Deixa a mulher, Regina Caetano, e filhos.

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Portal Sesc-SP/ Divulgação Almir Guineto, criador do banjo brasileiro, em foto de 2012

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