Folha de S.Paulo

PSDB discute nova imagem para superar Lava Jato

Efeito da operação e onda Bolsonaro levam grupo a falar em ‘refundação’

- BRUNO BOGHOSSIAN

Ala tucana, com aval de FHC, quer que partido reconheça erros em campanhas e reforce bandeiras liberais

O impacto da Lava Jato sobre os principais nomes do PSDB levou uma ala da cúpula tucana a planejar uma “refundação” do partido, em um movimento para recuperar sua imagem até a eleição de 2018 e fazer frente à ascensão de candidatos vinculados à antipolíti­ca, como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Parte do comando da sigla —inclusive nomes ligados a Aécio Neves, presidente do partido— passou a defender que o PSDB reconheça “erros”, em especial no financiame­nto de campanhas, e reforce compromiss­os éticos e bandeiras liberais.

Nas últimas semanas, dois tucanos procuraram Fernando Henrique Cardoso para discutir o assunto. O ex-presidente, segundo esses aliados, se mostrou favorável à estratégia de “retorno às origens éticas e ideológica­s”.

Para esse grupo, o PSDB foi gravemente ferido pelas suspeitas lançadas contra seus quadros na Operação Lava Jato por ter portado, desde o escândalo do mensalão, um forte discurso ético contra o PT.

Esses tucanos avaliam ter perdido um eleitorado cativo, que só pode ser recuperado com o reconhecim­ento de erros e uma defesa enfática do combate à corrupção.

Parte dos dirigentes da sigla quer colocar o plano em marcha no segundo semestre deste ano, a tempo de amenizar o desgaste da legenda rumo às eleições de 2018.

A articulaçã­o não é consenso na cúpula do partido. Outros tucanos próximos a Aécio e o grupo do governador paulista, Geraldo Alckmin,

BETO RICHA

Governador do Paraná resistem em apoiar movimentos drásticos de renovação por temerem perder espaço na estrutura partidária.

Esses grupos defendem um movimento mais brando, em que o partido defenda seus líderes e a política, e resgate sua história, como a implantaçã­o do Plano Real, para se apresentar como uma “opção viável” para a superação de crises políticas e econômicas.

“O PSDB não tem que se envergonha­r de nada. Tem que se orgulhar do que já fez pelo país, mas tem sempre que se atualizar, com posturas mais claras e transparen­tes”, afirma o governador do Paraná, Beto Richa.

A aposta na política tradiciona­l como alternativ­a é uma tentativa de reposicion­amento diante do cresciment­o de nomes considerad­os “forasteiro­s”, como Bolsonaro, nas últimas pesquisas eleitorais.

Presidente da sigla, Aécio diz que o PSDB vai recuperar esse eleitorado. “É natural que muitos eleitores flertem com outras candidatur­as. No momento do voto definitivo, eles vão votar no caminho seguro, do aprofundam­ento das reformas e da experiênci­a na gestão, que é o PSDB.” PERFIL DORIA O movimento de parte da cúpula tucana foi precipitad­o por pesquisas internas levadas há cerca de um mês ao comando da sigla.

Elas mostraram que a crise política desencadea­da pelas revelações da Lava Jato e o apoio da sigla ao governo Michel Temer distanciar­am o partido de seus eleitores.

O cenário, de acordo com essas sondagens, prejudicou partidos tradiciona­is, rachou o eleitorado classifica­do como “antipetist­a” e, nesse grupo, favoreceu a ascensão de candidatos menos identifica­dos com a política.

Os slides apresentad­os aos tucanos diziam que os eleitores rejeitam a maior parte dos políticos, que consideram elitistas, com discursos vazios.

Passaram a buscar alguém que “tenha lado” e “fale o que pensa”. Ao fim da apresentaç­ão, uma foto do prefeito paulistano João Doria apareceu no telão como exemplo.

A possível candidatur­a de Doria à Presidênci­a em 2018 ainda é motivo de controvérs­ia na cúpula do PSDB, especialme­nte nos entornos de Aécio e Alckmin, mas ganhou terreno em grupos que identifica­m a apresentaç­ão de um nome “novo” como a melhor alternativ­a para o partido superar sua crise de imagem.

O PSDB não tem que se envergonha­r de nada. Tem que se orgulhar do que já fez pelo país, mas tem sempre que se atualizar, com posturas mais claras e transparen­tes

 ?? Eduardo Knapp/Folhapress ?? O prefeito de São Paulo, João Doria, dá entrevista em seu gabinete; ele ilustrou pesquisa tucana sobre anseio do eleitor
Eduardo Knapp/Folhapress O prefeito de São Paulo, João Doria, dá entrevista em seu gabinete; ele ilustrou pesquisa tucana sobre anseio do eleitor

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