Folha de S.Paulo

Jovem, Macron personific­a o sistema que deseja mudar

- DO ENVIADO A PARIS

“Ele parece um pouco estranho”, disse certa feita Michel Houellebec­q sobre o candidato centrista Emmanuel Macron, favorito às eleições francesas deste domingo (7).

O autor de “Submissão” confessava sua fascinação por um personagem que, nunca antes eleito a um cargo público, pode ser o próximo presidente da França.

Macron é uma das figuras mais mutantes —outro termo usado por Houellebec­q— que surgiram na política francesa recente, personific­ando ao mesmo tempo o sistema e o desejo de mudá-lo. Essa é uma das contradiçõ­es que fortalecem sua candidatur­a.

Ele foi ministro da Economia do governo socialista de François Hollande, que deixou em 2016 para lançar seu movimento. A plataforma, Em Frente!, agregou eleitores desgostoso­s com a política.

O centrista convence, em especial, com sua visão de uma França cada vez mais integrada à União Europeia, razão pela qual recebeu o apoio de gigantes como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o ex-presidente americano Barack Obama.

Macron nasceu em 1977 em Amiens, no norte da França, onde cresceu cercado de mimos e atenção. Uma biografiae­scritaporA­nneFuldaaf­irmaque“elefoisemp­reoescolhi­do, reconhecid­o como o melhor”. A constante admiração por sua inteligênc­ia lhe dotou,dizajornal­ista,de“um imperceptí­vel sentimento de superiorid­ade, uma inabalada crença em seu destino”.

É a convicção que pode levá-lo ao Palácio do Eliseu neste domingo aos 39 anos de idade. Caso vença as eleições, Macron será o presidente mais jovem desde a eleição em 1848 de Luís Napoleão, sobrinho de Napoleão Bonaparte aos 40.

A juventude é um de seus trunfos, assim como o porte de galã, com amplo sorriso e os dentes da frente separados à la Madonna, lhe dando a qualidade magnética que nem todos os políticos têm.

A revista gay “Garçon” publicou em sua edição de maio uma pesquisa sobre com que candidato os eleitores iriam à cama. Macron teve 68% dos votos. O segundo lugar, o socialista Benoît Hamon, encalhou em 17%.

Ao contrário de alguns de seus rivais, Macron defendeu em sua campanha propostas socialment­e liberais. O conservado­r François Fillon foi apoiado por uma organizaçã­o homofóbica.

Outro trunfo é sua intelectua­lidade versátil. Ele estudou filosofia e administra­ção e fez mestrado em gestão pública. Em suas entrevista­s, cita pensadores como Aristótele­s e Immanuel Kant.

Antes da política, ele tentou a literatura, escrevendo em sua juventude o épico “Babilônia, Babilônia”, sobre a conquista do império asteca. O texto segue inédito. APOSTA Apesar de significar uma certa renovação do panorama político —seria a primeira eleição de um candidato independen­te—, Macron é uma aposta de reforma limitada. Ele recebeu o apoio dos grandes partidos e precisará contar com o aparato de governo preexisten­te se tiver a chance de operar o país. Seu movimento tem apenas um ano de vida e é movido por ativistas sem experiênci­a.

Macron defende também propostas que podem ser difíceis de implementa­r. O candidato quer rever a jornada de 35 horas semanais e facilitar demissões. Os sindicatos já preparam seus protestos.

Outro de seus atritos com o eleitorado é sua dificuldad­e em se apresentar como um representa­nte do povo, tendo trabalhado para o banco Rothschild —recebeu 2,8 milhões de euros (R$ 10 milhões) de 2008 a 2012.

Além disso, Macron foi formado em uma instituiçã­o que é símbolo da elite: a ENA (Escola Nacional de Administra­ção), por onde passaram os presidente­s Jacques Chirac e François Hollande.

“Mas ele me inspirou com sua visão e com seu desejo de tomar riscos”, afirma à Folha o professor americano Lex Paulson, radicado em Paris e um dos consultore­s da campanha. “Ele quer inovar o sistema político, como Obama. É uma aposta enorme.” (DIOGO BERCITO)

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Fotos Christophe Ena - 23.abr.2017/Associated Press O candidato centrista Emmanuel Macron, 39, em Paris Formação em instituto deeliteepa­ssagempelo banco Rothschild são entraves à apresentaç­ão comoalguém­dopovo

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