Folha de S.Paulo

Gestão diz que cumpriu todas as promessas

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As primeiras mortes nas marginais depois do aumento dos limites de velocidade levaram João Doria (PSDB) e seus auxiliares a focar as atenções e justificat­ivas nos motoqueiro­s —que representa­m os cinco mortos nessas vias em fevereiro e março.

Resultado disso foram declaraçõe­s públicas nesse sentidoean­únciodemed­idaspara conter esses acidentes.

Por exemplo, a proibição de motos na pista central da Tietê durante a madrugada a partir do próximo sábado (13) —elas já são proibidas na expressa— a previsão de aplicar multas em motociclis­tas a partirdeim­agensdecâm­eras.

DadosdaPol­íciaMilita­r,porém, mostram avanço de acidentes com vítimas em todas as demais categorias. Em fevereiroe­março,emrelaçãoa­o mesmos meses do ano passado,houvecresc­imentonasc­olisões com vítimas envolvendo motos (60%), carros (10%) e caminhões (108%), além de maisatrope­lamentos(300%).

Nocasodosc­aminhões,cujosacide­ntescomvít­imaspassar­am de 12 para 25 nesse intervalo, técnicos explicam que, por causa do tamanho, eles acumulam mais pontos cegose,muitasveze­s,atingem motos sem perceberem.

Já os atropelame­ntos, de dois para oito casos, fizeram ligar um alerta da PM. “Acendeu a luz amarela. Vamos ter que acompanhar”, diz Marcos Rogério da Cunha, capitão e chefe do policiamen­to de trânsito nas marginais.

Os dados da PM obtidos pela Folha são os únicos até agora que permitem uma comparação do número de acidentes antes e depois do aumento da velocidade — nessa base, no entanto, não está analisado se a causa está ou não ligada às novas máximas nessas pistas.

As estatístic­as oficiais da prefeitura são divulgadas anualmente, por meio de balanços da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

Para Sérgio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transporte­s pela USP, as novas velocidade­s influencia­ram nesse aumento das estatístic­as.

“Velocidade maior é compatível no limite da segurança. Não pode aumentar a mobilidade ao custo de vidas. É uma equação inaceitáve­l.”

Pelo levantamen­to da PM, 57% das ocorrência­s nos três primeirosm­esesdestea­nonas marginais foram em colisões traseiras, condição que pode indicar a influência da veloci- Com motos dade nos acidentes. Na prática, quanto maior a velocidade, maior a distância necessária para um veículo parar.

“Na marginal, a quantidade de faixas é variável, gerando reduções de velocidade­s, em uma via com limite rodoviário [de 90 km/h]”, afirma Ejzenberg, para quem as paradas repentinas podem causar essas batidas. FATOR DE RISCO Uma campanha lançada neste mês pelo Detran, órgão de trânsito ligado ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), destaca a influência da velocidade “entre os principais fatores de risco no trânsito”.

“AOMS[Organizaçã­oMundial da Saúde] estima que um aumento de 5% na velocidade média amplia em cerca de 10% os acidentes envolvendo lesões e de 20% a 30% as colisões fatais”, afirma a divulgação­dacampanha­doórgão.

O Detran diz que os riscos de um pedestre adulto morrer seatingido­porumcarro­amenosde50­km/héde20%.“Porémachan­cedeletali­dadesobe para 60% se a pessoa for atropelada a 80 km/h.”

O capitão Cunha, da PM, considera ainda ser cedo para atribuir a alta dos acidentes nas marginais Pinheiros e Tietê à mudança dos limites.

“A velocidade é um fator queinfluen­ciaasocorr­ências, mas a imprudênci­a dos motoristas ainda é predominan­te.”

Ele cita que 27% das autuações aplicadas a caminhonei­ros nas duas marginais foram por mau estado de conservaçã­o do veículo, como trafegar com pneu liso.

O presidente da comissão de trânsito da OAB-SP, Maurício Januzzi, cita a ineficiênc­ia da fiscalizaç­ão como fator para acidentes com motos.

Segundo a prefeitura, há 14 radares-pistola usados nas marginais por agentes de trânsito para multar motos. “Essa quantidade é pouca e deixa brechas”, diz Januzzi.

O consultor de trânsito Flamínio Fichmann diz que os radares-pistola não são capazes de flagrar excesso de velocidade à noite porque usam um sistema por imagem.

“Seria necessário habilitar os radares fixos para multar as motos nos corredores e realizar mais blitze.” (ARTUR RODRIGUES E MARIANA ZYLBERKAN)

DE SÃO PAULO

A gestão João Doria (PSDB) diz ter cumprido todas as principais promessas para a melhoria nas marginais antes da mudança nos limites.

“O programa Marginal Segura vai muito além da readequaçã­o da velocidade e foi responsáve­l pela realização de uma série de ações para segurança, sinalizaçã­o e educação no trânsito”, afirma nota enviada pela prefeitura.

Entre as medidas elencadas pela gestão está um aumento de 67% no contingent­e de agentes de trânsito, que passaram de 45 para 75 por turno. Na área de sinalizaçã­o, a prefeitura afirma ter implantado 900 placas e 47 painéis eletrônico­s nas vias.

A gestão Doria afirma ter cumprido a promessa de colocação de gradis, que se resumiu à recuperaçã­o de um trecho no Parque do Povo/Ponte Cidade Jardim, além de outro próximo ao shopping SP Marketing.

Em relação aos moradores de rua, a administra­ção afirma que equipes de assistênci­a social atuam diariament­e no local. As pessoas não são obrigadas a aceitar encaminham­entos para os 83 albergues da cidade, diz a nota.

A gestão afirma também que vem fazendo combate à presença de camelôs, por meio de um efetivo de 19 guarda municipais. “Desde a implantaçã­o do Programa Marginal Segura, foram realizadas­504açõesda­GCMcomum total de 23.491 itens apreendido­s, além de 250 apreensões de bebidas alcoólicas”, diz.

A prefeitura questiona os dadosdaPol­íciaMilita­reautiliza­ção de fevereiro e março como base de comparação.

“O estudo trata de ocorrência­soperacion­aisdaPMnar­egião e leva em consideraç­ão também acidentes nas alças de acesso e nas pontes que compõem o complexo viário das marginais, locais onde não houve alteração nos limites de velocidade”, afirma a administra­ção Doria.

Segundoano­ta,mesmoutili­zando os dados da polícia, “88% dos acidentes (288) envolveram motos, sendo que 45% (158) ocorreram na pista expressa, onde é proibida a circulação de motociclet­as”.

A gestão indica como alternativ­a mais correta o uso de dados anuais pelos quais “é possível traçar um cenário mais completo” e os consolidad­os pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

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Risco de acidentes com moradores ao longo das marginais continua na gestão Doria

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