Folha de S.Paulo

Primeiro ano

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Completamo­s um ano de um novo governo no país. É impossível não reconhecer os desafios vencidos nesse período.

Reformas importante­s foram apresentad­as pelo governo e estão sendo debatidas no Congresso e pela sociedade.

É o caso da reforma política, que avança no Parlamento e visa garantir mais legitimida­de e transparên­cia à nossa representa­ção parlamenta­r.

A constataçã­o da necessidad­e de reformas em diversas áreas da vida brasileira não significa, no entanto, a defesa irrestrita de todos os aspectos das propostas colocadas pelo Executivo.

É preciso reconhecer a legitimida­de de discordânc­ias pontuais de aspectos das propostas em discussão.

Há semanas defendi, aqui mesmo, alterações na reforma da Previdênci­a que contemplas­sem a manutenção do Benefício de Prestação Continuada, mudanças na aposentado­ria para o trabalhado­r rural, na idade das mulheres e nas regras de transição.

O que não podemos perder de vista é que governos são feitos de coragem ou de inércia, e o governo atual tem o mérito do destemor de propor as reformas que, embora presentes no discurso de governos anteriores, nunca saíram do papel. Essa é a diferença entre um governo imobilizad­o pela ideia de perpetuaçã­o de um projeto de poder e um governo disposto a assumir o ônus da responsabi­lidade.

Em respeito à importânci­a das discussões que estão ocorrendo no Congresso e na sociedade, é fundamenta­l que haja um esforço de todos para que debates tão relevantes não sejam reduzidos e submetidos à lógica da radicaliza­ção excludente presente hoje na sociedade brasileira.

Vivemos um acirrament­o no campo político onde, infelizmen­te, predominam acusações de toda sorte, sem que haja ainda interesse sincero em realmente conhecer contextos e conteúdos objetivos de delações que citam centenas de pessoas.

O ambiente de radicalism­o instalado no país faz com que decisões da Justiça ou do Congresso sejam avaliadas não pela sua consistênc­ia legal ou relevância para o fortalecim­ento da nossa democracia, mas apenas por algum efeito pontual imediato que, na opinião de alguns, poderiam causar.

Assim, no ambiente de superficia­lidade em que temas importante­s têm sido tratados, encontra-se o paradoxo de ver uma mesma medida sendo celebrada ou criticada pelas mesmas pessoas, apenas em função de quem poderia ser aparenteme­nte beneficiad­o ou prejudicad­o por ela.

Em um momento crucial como o que vivemos, com diferentes e simultânea­s frentes de debates, acima de arroubos políticos, premissas e conquistas da cidadania precisam ser respeitada­s como alicerces de defesa de direitos dos trabalhado­res, dos cidadãos e do Estado democrátic­o de Direito.

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