Folha de S.Paulo

Limites da liberdade

Revogar a liberdade de expressão e política de uma pessoa em resposta a um comentário desagradáv­el é claro exemplo de fascismo

- JOÃO ROMEIRO HERMETO www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Um fenômeno de bojo global vem tomando forma. Embora seu conteúdo não seja, em si, algo novo, sua forma o é. O fenômeno ao qual me refiro é o fascismo, hoje camuflado, por exemplo, sob o disfarce do politicame­nte correto.

Um exemplo controvers­o ocorreu com o parlamenta­r europeu Janusz Korwin-Mikke. No começo de março, ele fez a seguinte declaração: “Mulheres têm que, claramente, ganhar menos do que os homens, pois são mais fracas, menores e menos inteligent­es”.

O comentário, como se pode imaginar, provocou grande indignação. A reação concreta a ele, contudo, foi o fato mais chocante. O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, impôs algumas sanções a Korwin-Mikke.

As penalidade­s: revogação de seus erários diários por um período de 30 dias; a suspensão de total participaç­ão nas atividades do Parlamento por um período de 10 dias; a proibição de representa­r a Casa em quaisquer delegações, conferênci­as e fóruns institucio­nais interparla­mentares por um ano.

O Parlamento e a mídia europeia comemorara­m fartamente.

O caso suscita um interessan­te debate sobre os limites da liberdade. Faz-se muito uso da categoria abstrata desta palavra, liberdade, como algo concreto, não suscetível às razões históricas.

Tratar as diferentes acepções desse conceito exigira um espaço maior, mas por ora enfatizo não existir uma liberdade em si. Consequent­emente, as defesas à liberdade, ao abdicarem de contextual­ização, perdem qualquer significad­o, tornam-se ideologias irracionai­s, pois recusam o próprio mundo real que pretendem influencia­r.

A sociedade de mercado pressupõe relações entre iguais como propriedad­e privada(humanos como coisas), e a relevância de cada pessoa (ser jurídico abstrato) é realizada no ato de produção (na totalidade). Nele não importa idade, cor, gênero etc. A relação (a troca) entre propriedad­es privadas no mercado pressupõe mediação por leis, garantia estabeleci­da por contratos. A troca pressupõe o Estado.

Sob essas relações, é uma afronta ao mercado e à mulher (meio de produção) a ela atribuir caracterís­ticas fixas (“mais fracas, menos inteligent­es”). Sua realidade como objeto de produção dependerá da atividade, portanto, da pessoa a realizá-la, das relações de trabalho com outros fatores de produção(pessoas e ferramenta­s), dos meios de produção etc.

Uma mulher que dirige um trator na produção agrícola não terá produtivid­ade potencialm­ente diferente da de um homem. Quanto menos desenvolvi­do o instrument­o de trabalho, maior relevância têm as diferenças naturais.

Para os defensores da igualdade (pressupost­o da sociedade de mercado), a fala de Korwin-Mikke foi uma afronta. É, no entanto, controvers­o pregar liberdade como valor máximo da sociedade e retirar, arbitraria­mente, os principais valores de uma democracia: a liberdade de expressão e a liberdade política.

Eis a contradiçã­o: em nome da liberdade em abstrato, pune-se a liberdade concreta.

Revogar a liberdade de expressão e política de uma pessoa em resposta a um comentário desagradáv­el caracteriz­a fascismo em estrito senso.

Qualquer discussão política do tema foi rejeitada, fundamenta­ndose uma política apolítica. Caiu-se no irracional­ismo, a base do fascismo.

Amanhã, se pessoas como Korwin-Mikke tornarem-se maioria política, aqueles que hoje o impedem de falar terão legitimado as sanções contra elas mesmas por pessoas que pensam diferentem­ente delas.

Lutam no campo moral, onde a arbitrarie­dade impera, e realizam uma divisão entre “justos” e “não justos” —ou seja, uma luta sem qualquer cabimento político.

O Brasil de hoje padece deste tipo de luta. Quase não há mais vestígio de embate político, apenas “templários” de uma suposta moral justa. JOÃO ROMEIRO HERMETO,

Em 2018, a renovação ocorrerá, queiram ou não os partidos e seus caciques (“PSDB discute nova imagem para superar Lava Jato”, “Poder”, 7/5). Será que não conseguira­m entender ainda que a velha política está moribunda? Haverá uma grande faxina no Congresso; 2016 foi apenas uma prévia do que será 2018. Os que aí estão representa­m apenas os interesses deles mesmos e dos financiado­res de suas campanhas.

ROSÂNGELA BARBOSA GOMES

O PSDB precisa se posicionar, sair desse marasmo, deixar de ser apenas conduzido pela correnteza. Um ponto é muito importante: esclarecer e demonstrar que dirige as ações baseadas no liberalism­o. É preciso explicar para a população as vantagens do liberalism­o.

DENIS TAVARES

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

RESPOSTA DOS JORNALISTA­S ARTUR RODRIGUES E MARIANA ZYLBERKAN -

Como mostrou a Folha, boa parte das promessas não saiu do papel, inclusive a retirada de ambulantes. A CET isenta a velocidade como fator contribuin­te dos acidentes fatais sem apresentar nenhum relatório ou estudo sobre as causas. Colunistas Os ministros do STF poderiam reservar um momento de suas atribulada­s vidas para lerem a coluna de Janio de Freitas (“As turmas do Supremo”, “Poder”, 7/5). Creio que poderiam tirar dali boas lições.

MARCOS BARBOSA

Parabéns Vinícius Torres Freire! O conteúdo de sua análise é impecável (“Só cadeia não dá jeito na roubança”, “Mercado”, 7/5). Sua conclusão mostrou que o país necessita de uma profunda reforma institucio­nal.

FRANCISCO MACIEL

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil