Folha de S.Paulo

PT de SP trata José Dirceu e Palocci como presos políticos

- CATIA SEABRA

Quais as chances de Sergio Moro decretar a prisão preventiva de Lula na quarta (10), primeiro encontro cara a cara dos dois, em depoimento do expresiden­te à Justiça Federal?

Na teoria é possível, na prática, um tanto improvável, segundo especialis­tas consultado­s pela Folha .A possibilid­ade, contudo, inflama grupos pró e anti-Lula que planejam marchar até a 13ª Vara Federal de Curitiba, onde o juiz atua.

À esquerda, paira a ideia de que Moro prepara uma “ratazana” para encarcerar o petista. É o que diz a Causa Operária, que planeja “ocupar Curitiba com cem mil guarda-costas contra a prisão de Lula”.

Há expectativ­a também à direita. A página de Facebook “Lula no Xadrez” publicou um cartaz que simula erros de português na fala do ex-presidente: “A República de Curitiba te aguarda ansiosa!!! Seja di pé, rastejando que nem jararaca ou de bicicreta, não tem pobrema... Vem logo, querido!”.

A eventual detenção de Lula —em outro dia— não é descartada pelo professor de processo penal da USP Gustavo Badaró. “Pelos padrões do Moro, por menos ele já prendeu outras pessoas. Em interrogat­ório, Léo Pinheiro [sócio da OAS] disse que Lula o aconselhou a destruir provas [e, 2014], uma hipótese clássica para a prisão preventiva.”

Para Badaró, contudo, esse argumento é inadequado. Mesmo se provada a versão do delator, “seria um perigo que já se realizou, a prova já foi destruída, e a prisão não impediria isso”. Só tentativa recente de obstruir a Justiça justificar­ia aprisionar um réu não condenado, diz. E alegar que Lula possa reincidir e pe- dir nova destruição de provas “seria pura elucubraçã­o”.

Um juiz também pode decretar detenção provisória se ver risco de fuga ou ameaça à ordem pública. “Não acredito que essas condições existam em relação a Lula”, diz o professor da FGV-Rio Ivar Hartmann. Para ele, este último critério “é vago e permite abusos nas prisões”. “Seria como afirmar que o crime pelo qual o réu é acusado é muito grave e, se ficar solto, isso irá comover negativame­nte a comunidade.”

Já aconteceu de um juiz mandar prender alguém que voluntaria­mente apareceu para depor (nunca na Lava Jato). Mas “seria uma estranha e infeliz coincidênc­ia” se isso ocorresse na quarta, diz Fernando Castelo Branco, um dos coordenado­res do Instituto de Direito Público de São Paulo.

“Soaria muito mais como armadilha, um motivador para simpatizan­tes de Lula se revoltarem, do que um ato justificad­o por elementos que respaldam a prisão preventiva.”

Por Lula ser quem é, Moro pode ter um zelo que nem sempre dispensa a outros réus, segundo Castelo Branco. “Claro que ajuda esta condição popu- lista, gera contrafogo com Judiciário. Lula é quase santificad­o em muitos rincões.”

Se Moro tivesse provas sólidas para prendê-lo, já o teria feito. “Não é aquele amontoado de setas que pode justificar uma prisão”, diz, em referência à famosa apresentaç­ão no Power Point que colocava Lula no centro do esquema.

Em vídeo, o próprio Moro desencoraj­a a ida de simpatizan­tes à Curitiba. Diz que “nada de diferente ou anormal” acontecerá no dia. “É uma oportunida­de que o sr. ex-presidente vai ter para se defender, ato normal do processo.”

Marinho foi eleito para presidir a sigla no Estado

O PT de São Paulo decidiu, em congresso estadual, dar tratamento de preso político aos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, além do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Aprovada por unanimidad­e pelos 999 delegados estaduais do PT, uma moção propõe que o partido exija a liberdade dos três.

“É um erro e faz o jogo do juiz [Sérgio] Moro punir alguns petistas ‘culpados’ por delatores manipulado­s por procurador­es, juízes e policiais quando os presos sabidament­e não têm liberdade para se defender”, diz o texto.

Apresentad­o pela chapa Unidade pela Reconstruç­ão do PT, o texto diz também que a ‘’República de Curitiba’ mantém dirigentes do PT presos há mais de ano, alguns sequer condenados no ‘regime de exceção’ que se instala no país.

A moção será também submetida ao congresso nacional do PT, programado para os dias 1 e 2 de junho. Eleito presidente do PT de São Paulo horas depois da aprovação do texto, o ex-prefeito Luiz Marinho afirma: “o que queremos mostrar é todas arbitrarie­dades e a perseguiçã­o que o partido está sofrendo”.

Em seu discurso de agradecime­nto, Marinho informou que acompanhar­á o expresiden­te Lula em seu depoimento ao juiz Sérgio Moro. Depois, visitará Dirceu.

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Daniel Castellano/FramePhoto Polícia militar e bombeiros cadastram moradores em torno do prédio da Justiça Federal em Curitiba onde Lula irá depor

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