Folha de S.Paulo

Mos um candidato e sua campanha é mal conduzida, perdemos muita influência.

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Como o sr. vê a eleição do primeiro presidente liberal na França em tantos anos?

Se ele for um presidente liberal, faço parte dos que no Republican­os veem isso com bons olhos. O problema hoje é que não sabemos muito bem quais são os eixos do futuro governo Macron, pois ele não tem experiênci­a política que nos indique suas escolhas. Ele é um desconheci­do. Como lidar com o eleitorado de Marine Le Pen e o rancor?

Vimos que Le Pen sabia denunciar os problemas da sociedade francesa, principalm­ente o desemprego e a inseguranç­a, mas que não tinha soluções. Tudo isso abre um campo de iniciativa a Macron. Se ele colocar suas forças nesses dois temas, pode construir um diálogo com uma grande parte do eleitorado de Le Pen, que está ligado à solução de problemas, e não só a ela. Como seu partido e os socialista­s conseguira­m chegar ao ponto de nenhum dos dois ir ao segundo turno este ano?

Fomos vítimas da campanha sobre os assuntos ligados a [François] Fillon [acusado de empregar a mulher como funcionári­a fantasma em seu gabinete]. Quando designa- Por que a estratégia de barrar a Frente Nacional não funcionou neste ano com a mesma força de 2002, quando Chirac venceu Jean-Marie Le Pen por 82% a 18%?

Em 2002, ficamos surpresos e aturdidos pela presença de Jean-Marie Le Pen no segundo turno. Foi um choque. A presença de Marine Le Pen 15 anos depois está anunciada há muitos meses e foi um pouco banalizada. Não existe mais o sobressalt­o que superou todas as divisões à época. Desde que a Constituiç­ão europeia foi rejeitada pelos franceses, acumulam-se episódios de desconfian­ça sobre o bloco. Por quê?

Ela cresceu até o “brexit”, sentimos que houve um pico de contestaçã­o em toda a Europa quando o Reino Unido saiu. A Europa foi julgada burocrátic­a, ineficaz, principalm­ente quanto a imigração. Mas acho que um novo processo está sendo ativado.

De um lado, as guerras pelo mundo lembram a necessidad­e da Europa para se fazer a paz. Do outro, o “brexit” veio com a depreciaçã­o da libra e o risco de desconstru­ção da Europa.

Nessa campanha, a mensagem europeia, principalm­ente graças a Macron, existiu concretame­nte e fortemente. Penso que essa vitória significar­á uma refundação da Europa e do diálogo franco-alemão por ela.

Vimos que Le Pen sabia denunciar os problemas da

Qual é o futuro do populismo na Europa após a derrota de Le Pen?

O retorno do cresciment­o e a capacidade da Europa de reencontra­r uma dinâmica econômica e social é a melhor arma contra o populismo. O fato que tenhamos juntas eleições na França, agora, na Alemanha em setembro, e no Reino Unido em junho, faz com que os três grandes países europeus tenham anos de estabilida­de para trabalhar juntos e limitar o populismo. Mas é preciso ser muito vigilante, porque Donald Trump dá uma atualidade cotidiana a essa mensagem.

iniciativa a Macron. Se ele colocar suas forças nesses dois temas, pode construir um diálogo

Como vê a falha da França na integração de estrangeir­os, a ponto chegar a radicaliza­ção?

Não fomos bem sucedidos a controlar a imigração no ritmo de nossa capacidade de integração. Sem dúvida, não integramos suficiente­mente, e abrimos as fronteiras de forma excessiva. É um tema difícil e que é preciso regular. A nova geração de franceses advinda da imigração pode nos ajudar nessa necessidad­e de uma melhor integração.

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