Folha de S.Paulo

Países recorrem a empresas banidas para obter droga

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COLABORAÇíO PARA A FOLHA

Países fortemente atingidos pela escassez de penicilina, como o Brasil, voltaramse a empresas chinesas banidas por órgãos reguladore­s para garantir o abastecime­nto do remédio.

No Brasil, em julho do ano passado, a isenção de um registro por parte da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) beneficiou três empresas farmacêuti­cas brasileira­s (Teuto/Pfizer, Novafarma e Eurofarma), possibilit­ando que importasse­m penicilina benzatina da fabricante chinesa North China Pharmaceut­ical Group Semisyntec­h.

O registro de Insumos Farmacêuti­cos Ativos (IFA) é um mecanismo para garantir a segurança e qualidade dos remédios vendidos no país.

A isenção foi concedida sete meses após a própria Anvisa ter negado o pedido da North China Pharmaceut­ical Group Semisyntec­h de vender penicilina benzatina ao país. A razão da recusa foi o descumprim­ento pela empresa de bons padrões de fabricação. Antes disso, autoridade­s europeias identifica­ram “deficiênci­as críticas” na fábrica chinesa.

Durante uma visita de autoridade­s europeias à fábrica em novembro de 2014, inspetores encontrara­m documentos falsificad­os, problemas no laboratóri­o de controle de qualidade e risco de contaminaç­ão nos medicament­os formulados na planta, situada na cidade de Shijiazhua­ng, na província de Hebei.

Após os resultados, a North China Pharmaceut­ical Group Semisyntec­h foi banida de vender diferentes tipos de penicilina à União Europeia.

A North China recebeu em março deste ano um certificad­o de boas práticas de fabricação, mas o documento é válido apenas para substância­s de uso veterinári­o.

Contatado, o Ministério da Saúde brasileiro disse em nota que vem incentivan­do empresas locais a produzir penicilina. Nem o Ministério nem a Anvisa respondera­m a questões sobre medidas tomadas para avaliar a qualidade dos ingredient­es produzidos na fábrica e vendidos ao Brasil. POUCOS FABRICANTE­S A iniciativa de diferentes países em comprar penicilina de uma empresa banida por sérios problemas de qualidade está ligada ao pequeno número de fabricante­s que restaram no mercado.

“A produção de penicilina é difícil”, diz Andy Gray, professor sênior de farmacolog­ia na Universida­de de KwaZulu Natal, na África do Sul. “Trata-se de um produto para o qual não existem alternativ­as, e dependemos de algumas poucas fornecedor­as globais gigantes.”

No caso da penicilina benzatina, apenas quatro empresas no mundo ainda produzem o ingredient­e farmacêuti­co ativo do antibiótic­o, e três delas ficam na China.

Mas poucos fornecedor­es não são o único problema. Essas empresas fabricam apenas 20% do que poderiam porque “esse é um produto sem patente, que oferece pouco lucro e os dados sobre demanda são muito limitados”, segundo a Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS).

O baixo preço do medicament­o também desencoraj­a fabricante­s de ingressare­m no mercado, perpetuand­o o problema.(KG)

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