Folha de S.Paulo

Defensores da nova Previdênci­a apoiaram mais gastos em 2015

Deputados votaram a favor de flexibiliz­ação no governo Dilma

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“Todos nós temos pais e mães, que são pessoas idosas. Muitos dos que estão me ouvindo, parlamenta­res, sabem o que significa para os seus respectivo­s pais essa criminosa ação proposta pelo governo. Vamos votar a favor do aposentado!”

A frase, que arrancou palmas da galeria do plenário da Câmara dos Deputados em 2015, poderia ser dita por qualquer opositor da reforma da Previdênci­a do presidente Michel Temer. Mas seu autor foi o atual relator da proposta, o deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA).

Na época no Solidaried­ade, partido de oposição ao governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Maia foi um dos que, na sessão do dia 16 de maio de 2015, ajudou a aprovar uma medida que flexibiliz­ou o chamado fator previdenci­ário, aumentando os gastos da Previdênci­a.

Maia chamou a proposta do governo petista de “perversida­de criminosa” e “pacote de maldades”.

Além do deputado do PPS, vários dos que hoje defendem a reforma de Temer também votaram, naquele dia, contra o ajuste nas contas. É o caso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do líder do governo, André Moura (PSC-SE), e do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

“Com certeza foi um erro. Mas encaminhei as MPs do Joaquim Levy [então ministro da Fazenda de Dilma] a favor. Acho que este é o caminho certo. Responsabi­lidade fiscal sempre”, disse Rodrigo Maia, que votou a favor das propostas de Dilma, mas também pela derrubada do fator.

Toda a bancada do PSDB —inclusive o hoje ministro Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e o atual líder do partido na Câmara, Ricardo Tripoli (SP)— votou a favor da flexibiliz­ação, apesar de o fator ter sido criado por Fernando Henrique Cardoso.

“O fator previdenci­ário sempre foi importante. O problema era o descrédito do governo Dilma”, disse Tripoli, afirmando não se lembrar exatamente como votou.

O PSDB e Imbassahy divulgaram notas similares, dizendo que votaram a favor da emenda porque o fator havia esgotado sua função. “Já o que está em discussão neste momento é muito mais abrangente: é uma reforma em todo o regime”, disse o tucano.

Autor da proposta alternativ­a ao fator na época, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) diz que a mudança de posição dos colegas parlamenta­res se deve ao cenário político. “O que houve foi mudança de governo. Essas pessoas na época eram oposição e hoje são governo, só isso.”

Procurado nos últimos dias diretament­e e por meio da assessoria para explicar a mudança de posição, Arthur Maia não deu resposta. MUDANÇA A medida que obteve apoio dos deputados permitia que mulheres e homens que atingissem 85 e 95 na soma de idade com tempo de contribuiç­ão se aposentass­em com 100% do benefício. A flexibiliz­ação foi aprovada na mesma votação da MP que endurecia as regras para pensão por morte e auxílio-doença.

A fórmula 85/95 foi vetada por Dilma. A petista, no entanto, editou uma nova medida provisória com essa regra, mas com progressão que chagaria até 90/100 em 2027.

Mesmo assim, a medida agravou o rombo do INSS. Segundo o coordenado­r de Previdênci­a do Ipea, Rogério Nagamine, houve aumento de 16,6% no valor médio da aposentado­ria por tempo de contribuiç­ão no segundo semestre de 2015 comparado ao primeiro semestre.

Em 2016, o rombo do INSS somou R$ 149,7 bilhões. (LAÍS ALEGRETTI E RANIER BRAGOR)

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