Folha de S.Paulo

Abstenção de tucano marcou derrota de FHC por um voto para mudar INSS

O então deputado do PSDB Antonio Kandir disse que errou ao apertar botão para votar

- LAÍS ALEGRETTI RANIER BRAGON

DE BRASÍLIA

Um voto. Foi o que faltou para o então presidente Fernando Henrique Cardoso conquistar o feito de estabelece­r a idade mínima para aposentado­ria no Brasil.

A fatídica votação da Câmara que derrubou o eixo central da reforma do ex-presidente tucano completa 19 anos neste fim de semana.

O episódio é lembrado até hoje não só pelo placar apertado e pela relevância do tema, mas também pelo principal personagem.

O então deputado Antonio Kandir (PSDB-SP), que havia deixado o comando do ministério do Planejamen­to semanas antes, apertou o botão de abstenção na votação da proposta, considerad­a crucial pelo governo FHC.

Apesar de outros aliados terem traído o Palácio do Planalto, foi a atitude dele que ficou conhecida por derrubar a idade mínima.

A explicação do parlamenta­r, na época, foi a de que ele havia se enganado e errado o voto. Ele não fez, contudo, a correção antes da totalizaçã­o dos votos, como fizeram outros 17 parlamenta­res.

Nos bastidores, deputados governista­s e de oposição disseram que ele tinha certeza de que o governo aprovaria com folga a reforma, tendo preferido, com isso, recorrer à abstenção para não se desgastar politicame­nte.

Em discurso após a votação, FHC assumiu a versão de “equívoco”, mas disse: “Peço aos que se equivocara­m para não se equivocar mais”.

No segundo volume dos Diários da Presidênci­a, o expresiden­te reclama da dificuldad­e de fazer mudanças na área de Previdênci­a.

Avalia como “um pouco injusto” Kandir levar a culpa, quando outros governista­s faltaram à votação.

“[...] Não se pode dizer que era o objetivo do Kandir votar contra o governo. Portanto, é difícil julgar só os objetivos; é preciso julgar aquilo que está expresso.”

A Folha tentou contato com Kandir durante as últimas semanas, inclusive por meio de ex-correligio­nários, mas não conseguiu falar com o ex-ministro.

Em 1998, ele divulgou uma nota em que culpa o sistema da Câmara, mas diz também que o estabeleci­mento de uma idade mínima só teria efeito financeiro em 30 anos.

Aos 71 anos e deputado há 30, Arnaldo Faria de Sá foi contrário às sucessivas reformas previdenci­árias patrocinad­as pelos governos de FHC (1995-2002), Lula (20032010), Dilma Rousseff (20112016) e Michel Temer.

E estava na sessão do dia 6 de maio de 1998.

“Passei por todas essas reformas, é tudo a mesma ladainha, são reformas financeira­s travestida­s de reforma social. Mas a pior reforma de todas é essa, a atual, ela desmonta o sistema de Previdênci­a Social. Faz o jogo desca-

 ?? Roberto Stuckert Filho - 6.mai.98/Agência O Globo ?? O então deputado Antônio Kandir em seu gabinete após votação
Roberto Stuckert Filho - 6.mai.98/Agência O Globo O então deputado Antônio Kandir em seu gabinete após votação

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