FILHOS E COMPANHIA
Experiência vivida após a maternidade rende ideias de produtos e serviços que podem ser colocadas em prática com auxílio de redes de apoio e aceleradoras
DE SÃO PAULO
Três em cada quatro empreendedoras abrem a empresa após a chegada dos filhos, muitas atraídas pela possibilidade de horários mais flexíveis e do desejo de mudar a trajetória profissional. Os dados são da Rede Mulher Empreendedora, que entrevistou cerca de 1.400 pessoas em agosto de 2016.
O universo das pequenas empresas que surgem inspiradas pela maternidade está em expansão. Há até uma aceleradora focada no segmento: a B2Mamy, fundada em 2016 pela farmacêutica Danieli Junco, 36.
A ideia é aproveitar as metodologias do Vale do Silício e aplicá-las em empresas criadas por mães. “Estimulamos uma rede de apoio às empresárias, já que percebemos que é muito comum que troquem produtos e ideias entre elas”, afirma Junco.
No primeiro mês, os 32 negócios participantes venderam R$ 40 mil entre si.
Foi graças às conversas entre empreendedoras que a publicitária Karen Kanaan, 39, criou o carro-chefe da Baby & Me, fundada em 2015: o protetor de berço para crianças em fase de desfralde, que já vendeu 150 mil unidades.
“No grupo, as mães sugeriam usar um tapete para que cães não molhassem suas caminhas e percebi a falta de um produto do tipo”, afirma.
A empresa, hospedada no Campus São Paulo do Google, fatura R$ 50 mil por mês e vai receber um aporte de R$ 800 mil de investidores.
As redes podem até servir como uma amostra incipiente de mercado, aponta a consultora do Sebrae Juliana Berbert. “Isso porque um dos erros mais comuns é não saber diferenciar uma necessidade de mercado de um problema pontual daquela mãe”, diz.
Para Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, vale oferecer protótipos a amigos ou vendê-los em pequena escala para testar a aceitação ao produto.
Antes de abrir a Brincateca, que monta espaços lúdicos em locais como restaurantes e clubes, as advogadas Camila Moreira, 37, e Maria Célia Malheiro, 32, buscaram orientações de carreira e consultaram amigos com filhos e donos de estabelecimentos.
“Todos nos diziam que havia potencial, já que os pais querem descansar enquanto seus filhos brincam”, afirma.
A empresa, criada em 2016, teve investimento inicial de R$ 50 mil. O plano é fechar es- te ano faturando R$ 30 mil por mês. Os desafios são muitos: Moreira, que ainda não se dedica só à empresa, trabalha depois que os filhos vão dormir. O expediente extra pode se estender até 3h da manhã.
As empresárias devem ter em mente que flexibilidade de horário ou trabalho em casa não significa uma jornada mais curta, explica Fontes.
“Não vejo como trabalhar meio período e construir um negócio de impacto, já que isso demanda dedicação”, diz.
Para evitar a carga excessiva de trabalho, é vital buscar sócios com habilidades complementares. Por exemplo, um que prefira vender e outro que fique à frente da produção, diz o professor de empreendedorismo do Insper Marcelo Nakagawa.
“Abrir a empresa sozinha tende a ser uma má ideia, já que a qualidade do serviço pode oscilar, o que mina a competitividade do produto.” das mulheres empreendedoras investem nas áreas de comércio ou serviços investiriam mais na empresa se tivessem mais acesso a linhas de crédito não têm sócios