Corinthians vence descrédito e leva título
Com menos reforços que rivais, clube formou time estável e conquistou troféu após superar a Ponte Preta
PAULISTA
De “quarta força” do Estado a campeão do Campeonato Paulista. Em cinco meses, o desacreditado Corinthians, formado por um elenco com jogadores poucos badalados em virtude da grave crise financeira que o clube atravessa, superou os rivais e levou o título do Estadual.
Com um futebol que privilegia a organização tática e a defesa, superou a Ponte Preta, com vitória por 3 a 0 na primeira partida e empate em 1 a 1, neste domingo (7), em Itaquera.
Com o título, o alvinegro se isolou ainda mais na liderança de conquistas do Campeonato Paulista. São 28 troféus. Palmeiras e Santos, que dividem a segunda posição, têm 22. O São Paulo soma 21 taças.
O desfecho deste domingo só foi possível porque o time seguiu as ideias defensivas do técnico Fábio Carille, que assumiu o cargo no final do ano passado, após o clube não encontrar no mercado profissionais livres e que se enquadravam na realidade financeira vivida pelo clube.
Um dos principais problemas enfrentados pelo Corinthians é o pagamento do Arena, em Itaquera, construída em 2014 para ser palco da abertura da Copa do Mundo.
O valor total da construção do estádio foi de R$ 985 milhões. O custo somado com os juros chegará a R$ 1,64 bilhão.
A dificuldade aumentou no início deste ano em virtude do começo pouco empolgante da equipe, que afastou o torcedor do estádio. A renda dos jogos é essencial para o pagamento do Itaquerão, já que é destinada a um fundo para quitar as dívidas.
Em campo, a torcida corintiana via um time sem referência. Dos quatro maiores clubes de São Paulo, foi o que menos investiu. O Palmeiras só com Borja e Guerra gastou R$ 45 milhões. O São Paulo pagou R$ 20 milhões em Lucas Pratto, enquanto o Santos investiu R$ 13,5 milhões em Bruno Henrique.
Já o Corinthians optou por nomes como o volante Paulo Roberto, o zagueiro Pablo e o atacante Kazim, o que irritou os torcedores, que protestaram pedindo contratações.
Os reforços mais conhecidos foram Jô, trazido no ano passado, e Jadson, que chegou sob desconfiança, além do volante Gabriel, pouco utilizado no rival Palmeiras em 2016.
No dia 11 de janeiro, membros das torcidas organizadas foram ao Centro de Treinamento protestar. “Presidente omisso” e “era Dualib mais era Andrés Sanchez é igual a falência financeira do Timão” eram algumas das faixas estendidas no portão do CT.
Fora de campo, o Corinthians vivia grandes problemas nos bastidores. O presidente Roberto de Andrade passava por um processo de
Público e desempenho do campeão
impeachment, que acabou sendo arquivado após acordo com o grupo de conselheiros encabeçado pelo expresidente Andrés Sanchez.
O prognóstico pessimista dos torcedores aumentou na segunda rodada do Campeonato Paulista. Em casa, a equipe foi derrotada por 2 a 0 para o Santo André e saiu de campo vaiada. Na primeira rodada, uma vitória magra com um gol de pênalti. REVIRAVOLTA No início de janeiro, Fábio Carille disse à Folha que todos os problemas extra-campo não chegariam aos jogadores e que aquele protesto do dia 11 “fazia parte das equipes grandes”.
Tratado como a “quarta força do futebol paulista”, a equipe ignorou as críticas e passou a aprimorar principalmente o setor defensivo.
“Até nós mesmos achávamos que éramos a quarta força. Mas procuramos nos fechar, olhar no olho de cada um e falar a verdade”, revelou Carille uma semana antes do último confronto pelo Paulista.
O duelo contra o Palmeiras, em fevereiro, pela quinta rodada do Estadual, foi uma das provas de que o time tinha assimilado a inferioridade técnica para o rival, que tornou-se um dos mais badalados do país pelo investimento feito, e jogou dentro de suas possibilidades.
No segundo tempo, com um jogador a menos no clássico contra o Palmeiras,
FÁBIO CARILLE
técnico do Corinthians Carille recuou o time formando duas linhas de quatro para segurar o empate e apostou em uma bola para tentar vencer a partida, o que aconteceu com Jô. Vitória de 1 a 0 em casa, no ano do centenário do clássico.
O resultado positivo e o estilo aguerrido dos atletas colocaram a torcida novamente ao lado do clube. A esperança reacendeu e o público na Arena Corinthians aumentou no jogo seguinte.
E foi justamente em um novo clássico, desta vez contra o Santos. O gol da vitória novamente foi de Jô, que viria a se especializar em marcar contra os rivais —em cinco duelos foram cinco gols do atacante.
Desde então, o público no Itaquerão aumentou, assim como a confiança da torcida na equipe.
A conquista deste domingo coroou uma campanha alvinegra com 10 vitórias, seis empates e duas derrotas, 22 gols marcados e apenas 11 sofridos.
“
Nunca prometi título. Falei que iríamos brigar. Não é normal a gente ser campeão com tão pouco tempo Eu não esperava, as coisas aconteceram muito rápido”