Folha de S.Paulo

Corinthian­s vence descrédito e leva título

Com menos reforços que rivais, clube formou time estável e conquistou troféu após superar a Ponte Preta

- EDUARDO RODRIGUES LUIZ COSENZO

PAULISTA

De “quarta força” do Estado a campeão do Campeonato Paulista. Em cinco meses, o desacredit­ado Corinthian­s, formado por um elenco com jogadores poucos badalados em virtude da grave crise financeira que o clube atravessa, superou os rivais e levou o título do Estadual.

Com um futebol que privilegia a organizaçã­o tática e a defesa, superou a Ponte Preta, com vitória por 3 a 0 na primeira partida e empate em 1 a 1, neste domingo (7), em Itaquera.

Com o título, o alvinegro se isolou ainda mais na liderança de conquistas do Campeonato Paulista. São 28 troféus. Palmeiras e Santos, que dividem a segunda posição, têm 22. O São Paulo soma 21 taças.

O desfecho deste domingo só foi possível porque o time seguiu as ideias defensivas do técnico Fábio Carille, que assumiu o cargo no final do ano passado, após o clube não encontrar no mercado profission­ais livres e que se enquadrava­m na realidade financeira vivida pelo clube.

Um dos principais problemas enfrentado­s pelo Corinthian­s é o pagamento do Arena, em Itaquera, construída em 2014 para ser palco da abertura da Copa do Mundo.

O valor total da construção do estádio foi de R$ 985 milhões. O custo somado com os juros chegará a R$ 1,64 bilhão.

A dificuldad­e aumentou no início deste ano em virtude do começo pouco empolgante da equipe, que afastou o torcedor do estádio. A renda dos jogos é essencial para o pagamento do Itaquerão, já que é destinada a um fundo para quitar as dívidas.

Em campo, a torcida corintiana via um time sem referência. Dos quatro maiores clubes de São Paulo, foi o que menos investiu. O Palmeiras só com Borja e Guerra gastou R$ 45 milhões. O São Paulo pagou R$ 20 milhões em Lucas Pratto, enquanto o Santos investiu R$ 13,5 milhões em Bruno Henrique.

Já o Corinthian­s optou por nomes como o volante Paulo Roberto, o zagueiro Pablo e o atacante Kazim, o que irritou os torcedores, que protestara­m pedindo contrataçõ­es.

Os reforços mais conhecidos foram Jô, trazido no ano passado, e Jadson, que chegou sob desconfian­ça, além do volante Gabriel, pouco utilizado no rival Palmeiras em 2016.

No dia 11 de janeiro, membros das torcidas organizada­s foram ao Centro de Treinament­o protestar. “Presidente omisso” e “era Dualib mais era Andrés Sanchez é igual a falência financeira do Timão” eram algumas das faixas estendidas no portão do CT.

Fora de campo, o Corinthian­s vivia grandes problemas nos bastidores. O presidente Roberto de Andrade passava por um processo de

Público e desempenho do campeão

impeachmen­t, que acabou sendo arquivado após acordo com o grupo de conselheir­os encabeçado pelo expresiden­te Andrés Sanchez.

O prognóstic­o pessimista dos torcedores aumentou na segunda rodada do Campeonato Paulista. Em casa, a equipe foi derrotada por 2 a 0 para o Santo André e saiu de campo vaiada. Na primeira rodada, uma vitória magra com um gol de pênalti. REVIRAVOLT­A No início de janeiro, Fábio Carille disse à Folha que todos os problemas extra-campo não chegariam aos jogadores e que aquele protesto do dia 11 “fazia parte das equipes grandes”.

Tratado como a “quarta força do futebol paulista”, a equipe ignorou as críticas e passou a aprimorar principalm­ente o setor defensivo.

“Até nós mesmos achávamos que éramos a quarta força. Mas procuramos nos fechar, olhar no olho de cada um e falar a verdade”, revelou Carille uma semana antes do último confronto pelo Paulista.

O duelo contra o Palmeiras, em fevereiro, pela quinta rodada do Estadual, foi uma das provas de que o time tinha assimilado a inferiorid­ade técnica para o rival, que tornou-se um dos mais badalados do país pelo investimen­to feito, e jogou dentro de suas possibilid­ades.

No segundo tempo, com um jogador a menos no clássico contra o Palmeiras,

FÁBIO CARILLE

técnico do Corinthian­s Carille recuou o time formando duas linhas de quatro para segurar o empate e apostou em uma bola para tentar vencer a partida, o que aconteceu com Jô. Vitória de 1 a 0 em casa, no ano do centenário do clássico.

O resultado positivo e o estilo aguerrido dos atletas colocaram a torcida novamente ao lado do clube. A esperança reacendeu e o público na Arena Corinthian­s aumentou no jogo seguinte.

E foi justamente em um novo clássico, desta vez contra o Santos. O gol da vitória novamente foi de Jô, que viria a se especializ­ar em marcar contra os rivais —em cinco duelos foram cinco gols do atacante.

Desde então, o público no Itaquerão aumentou, assim como a confiança da torcida na equipe.

A conquista deste domingo coroou uma campanha alvinegra com 10 vitórias, seis empates e duas derrotas, 22 gols marcados e apenas 11 sofridos.

Nunca prometi título. Falei que iríamos brigar. Não é normal a gente ser campeão com tão pouco tempo Eu não esperava, as coisas acontecera­m muito rápido”

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