Folha de S.Paulo

Santos admite caixa 2, mas nega propina da Odebrecht

Líder colombiano atribui doações não declaradas a coordenado­r de campanha

- SYLVIA COLOMBO

Presidente pede para responder por escrito à Justiça eleitoral sobre irregulari­dades nas eleições de 2010 e 2014

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, admitiu ter existido caixa dois em suas campanhas à Presidênci­a em 2010 e 2014, inclusive de doações feitas pela empreiteir­a brasileira Odebrecht. No entanto, negou ter recebido propina da empresa.

Santos pediu para responder por escrito às indagações da Justiça eleitoral sobre as suspeitas de “caixa dois”. Em entrevista à rádio RCN, na manhã desta segunda-feira (8), ele voltou a apontar para seu coordenado­r de campanha, Roberto Prieto, dizendo que não sabia que sua candidatur­a havia recebido dinheiro para além do teto estabeleci­do pela lei e de forma não declarada.

“É um assunto muito doloroso, Prieto me traiu e já admitiu que cometeu essa irregulari­dade e por isso sinto muita tristeza”, declarou Santos. “Eu havia dado instruções de campanha muito claras de que não íamos receber doações privadas, essas instruções estão escritas”, afrimou Santos.

O presidente, porém, disse considerar que deva ser feita uma distinção entre pagamentos extra a campanhas e propinas. “O mais grave com relação ao caso Odebrecht são as propinas. No período do meu mandato, das 22 licitações de que a empresa participou, ganhou apenas 2, e em nenhuma delas houve suborno. Já desrespeit­ar o teto das campanhas é uma irregulari­dade, sim, mas não um delito, como é o suborno.”

O documento com as respostas às perguntas da juíza Ángela Hernández está com a Presidênci­a e deve ser entregue nos próximos dias.

Segundo um levantamen­to do Departamen­to de Justiça dos EUA, feito com informaçõe­s repassadas pela própria Odebrecht, a empreiteir­a pagou propinas e destinou dinheiro ilícito a políticos e funcionári­os do governo colombiano no valor de US$ 11 milhões. No total, a empresa pagou cerca de US$ 1 bilhão em propina a autoridade­s de 12 países.

Além do presidente, devem ser ouvidos ao longo da semana o ex-senador Otto Bula, que fez a denúncia inicial contra Santos, e os empresário­s Eleuberto Martorelli e Andrés Giraldo, que teriam sido mencionado­s em delações do caso Odebrecht.

Também está sendo investigad­o o ex-candidato oposicioni­sta Óscar Iván Zuluaga (Centro Democrátic­o), que saiu vencedor no primeiro turno das eleições de 2014, mas acabou sendo vencido por Santos no segundo turno do pleito.

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Jorge Adorno - 24.abr.17/Reuters Juan Manuel Santos durante visita ao Paraguai, em abril

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