Folha de S.Paulo

Medina tenta reduzir vantagem do seu maior rival

- O americano Kelly Slater participa da etapa de Bells Beach (Austrália) do Mundial de surfe

A etapa brasileira do Circuito Mundial de surfe começou com uma nota negativa. Um dos atletas mais aguardados pelos fãs locais, o americano Kelly Slater, 45, decidiu não comparecer ao evento.

Maior campeão da história da modalidade, com 11 títulos, ele disse em nota que dores nas costas o impedem de participar da competição. A etapa começa nesta terça-feira (9), às 7h, em Saquarema.

“Tenho sofrido com algumas lesões nas últimas temporadas e, infelizmen­te, preciso de um tempo para recuperar meu corpo. Não estarei no Rio e não sei quanto tempo precisarei”, disse Slater em nota divulgada na tarde desta segunda-feira (8).

As lesões têm atrapalhad­o a performanc­e de Slater. Em 2010, ele rompeu ligamentos de um joelho após queda no mar. Dois anos depois, deixou de participar da etapa do Rio devido a uma torção no tornozelo. Em 2014, quebrou três dedos do pé ao surfar fora de competição e ficou três semanas longe da água. Já a dor nas costas, motivo de sua ausência nesta etapa, o acompanha há anos e deriva de uma escoliose —uma curvatura da coluna vertebral.

“Minha lombar está constantem­ente doendo nos últimos três anos e apesar de eu ter conseguido lutar com a dor por curtos períodos, não resolveu o problema. Se eu não fizer isso agora [parar], em algum ponto vai acabar com meu corpo”, disse o surfista, 13º do ranking.

Seu lugar será ocupado pelo brasileiro Bino Lopes, que era o primeiro na lista de espera. Com isso, o Brasil con-

KELLY SLATER

surfista americano tará com 11 representa­ntes na chave masculina —Silvana Lima é a única representa­nte nacional entre as mulheres.

Em 2016, Slater também frustrou os torcedores brasileiro­s ao alegar “motivos pessoais” para não surfar no Rio.

Desta vez, a ausência é ainda mais sentida porque esta poderia ter sido sua última passagem pelo país como surfista profission­al.

Em outubro de 2016, ele postou mensagem nas redes sociais que indicava sua aposentado­ria no fim do ano.

Fãs de Slater, os surfistas brasileiro­s, no entanto, riem da possibilid­ade dele se aposentar. Isso porque o “quarentão” já fez a mesma ameaça algumas vezes.

“Supostamen­te é o último ano dele, né? Ele é a pessoa mais competitiv­a que já vi, não vai parar. Ele compete até na fila de check-in do hotel. Pergunta: ‘o que você está fazendo aqui?’”, diz à Folha Mineirinho, que chegou a ser chamado de “criptonita de Slater” após tê-lo vencido oito vezes consecutiv­as. Ao longo da carreira, bateu o lendário surfista em onze baterias.

Campeão em 2014 do World Qualifying Tour (equivalent­e à segunda divisão) de Saquarema, Wiggolly Dantas ironiza a suposta fim da linha para o americano.

“Ele fala isso para ter ‘Ibope’, não vai parar. Ele vai continuar incomodand­o por mais uns dois ou três anos. Continua surfando bem como sempre, e por isso vai continuar.”

DOS ENVIADOS A SAQUAREMA (RJ)

Saquarema verá de perto uma das maiores rivalidade­s do surfe atualmente. O brasileiro Gabriel Medina, campeão mundial em 2014, medirá forças com o havaiano John John Florence, atual vencedor e líder da temporada.

“Tem sim uma rivalidade entre nós, e o surfe precisa disso. Tivemos muitas baterias boas, um contra o outro. Acho que nos próximos anos isso vai se intensific­ar ainda mais. Gabriel é um grande competidor e ele realmente eleva o nível de todos os surfistas, inclusive o meu”, afirmou à Folha o havaiano.

Sobre a vantagem de 14.250 pontos em relação ao brasileiro, John John faz pouco caso. “É muito cedo ainda. Ele pode se recuperar e me alcançar em um segundo. Fico feliz de ter tido um início tão bom na Austrália, mas essa vantagem ainda é ilusória.”

O brasileiro, que se diz “quase totalmente recuperado” de uma torção no joelho ocorrida após tentativa de aéreo em Snapper Rocks, na Austrália, concorda.

“Ele [John John] começou bem o ano, mas acabou de começar. Se eu for bem nesta etapa estarei na briga.”

Medina comemorou a substituiç­ão da prova na Barra da Tijuca por Saquarema.

“Saquarema tem uma onda melhor que a Barra. É mais constante e dá para surfar melhor. Aqui vai ser difícil termos um dia sem campeonato. A onda tem mais potencial”, disse o brasileiro.

John John concorda com o rival brasileiro. “A onda é mais longa aqui, o que te possibilit­a mais ‘rasgadas’. Veremos muitas delas.”

Medina participar­á da primeira bateria contra o português Frederico Morais e o australian­o Ethan Ewing. John John faz a sexta bateria contra o americano Jack Freestone e o brasileiro Yago Dora, vencedor de triagem nesta segunda-feira (8). (AVEGS)

Tenho sofrido com algumas lesões nas últimas temporadas e, infelizmen­te, preciso de um tempo para recuperar meu corpo. Não estarei no Rio e não sei quanto tempo precisarei

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