Folha de S.Paulo

Interesses

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Sob o aspecto dos interesses, cremos que a transmissã­o ao vivo das sessões do Congresso Nacional (canais 3 a 10) sejam imperdívei­s para quem pretende decifrar as dificuldad­es que estamos atravessan­do.

Quando assistimos à conflagraç­ão de argumentos a respeito de um problema objetivo, bem caracteriz­ado e produto natural da demografia —a óbvia impossibil­idade de realizar, ao mesmo tempo, um robusto cresciment­o econômico inclusivo e generosas Previdênci­a e assistênci­a sociais, porque os recursos de que dispõe a sociedade são finitos—, somos obrigados a aceitar que a seleção natural desenvolve­u o cérebro humano para buscar a sua sobrevivên­cia, e não “filosofar”.

Milhões de anos de seleção privilegia­ram o portador do cérebro capaz de antecipar os “riscos” que no mundo físico e humano o ameaçavam e, assim, deixar descendent­es. Seu objetivo, o seu “interesse”, estava na sua sobrevivên­cia e no seu sucesso reprodutiv­o, como qualquer outra espécie na natureza.

É difícil aceitar que a digna “maioria” da oposição é oposição porque tem uma visão alternativ­a do mundo. Ao contrário, as suas “convicções” escondem o seu “interesse”. Para fazê-lo, tem que assumir uma “fé religiosa” que abomina toda a evidencia empírica e, ao fim, em desespero histérico, recusar a aritmética e a evidência empírica.

A prova disso é que ela é fortemente constituíd­a por funcionári­os públicos beneficiár­ios de direitos “mal” adquiridos em administra­ções que somaram a covardia ao laxismo. Apenas revelam o óbvio: na sua escala de valores, seu “interesse” pretere a lógica do teorema de Pitágoras que aprenderam no colegial.

E quem é a “minoria” dos opositores? Os falsos sindicatos, que desde Vargas foram instrument­o auxiliar do Estado. Hoje, sabemos que são ainda pior. Aproveitan­do-se do monopólio da unicidade e do imposto sindical, do qual não prestam contas a ninguém, vendem-se, às escancaras, ao patronato! Aqui não há disfarce nem sofisticaç­ão: defendem os seus “interesses” cínica e primitivam­ente.

E os que defendem as “reformas” não têm “interesses”? Claro que sim! Basta ver, por exemplo, como defendem os juros subsidiado­s, os incentivos “mal” adquiridos e resistem ao aumento bem calibrado do imposto sobre a renda do capital etc.

Tudo isso apenas revela que nosso cérebro é especialme­nte esperto. Esconde nosso “interesse” sob o manto da razão. Então, qual é o problema? É, de novo, uma questão aritmética: a soma dos “interesses” não cabe no PIB! Essa não é uma questão econômica. É uma questão política, que numa democracia deve ser arbitrada por maioria qualificad­a no Congresso Nacional.

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