Folha de S.Paulo

Discutir a relação

Programas televisivo­s de PSDB, PMDB e PT revelam diferentes fragilidad­es e as estratégia­s das siglas para o pleito presidenci­al de 2018

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Um incauto que assistisse à propaganda televisiva do PSDB, na quinta-feira (11), poderia imaginar que testemunha­va o início de um movimento de renovação da vida partidária brasileira, uma versão local do “En Marche” francês.

Em uma roda, sentados, jovens prefeitos, deputados e vereadores discutiam política com eleitores de idades variadas, a maioria aparentand­o pertencer aos diversos estratos da classe média.

“Nós, políticos, devemos pedir desculpas para vocês”, diz-se, a certa altura da conversa editada para TV, “porque a classe política, de fato, faz por merecer tudo isso que vocês falaram da gente”.

A cúpula tucana, é provável, imaginou que cairiam em seu colo, por mera ação da gravidade, os votos dos desencanta­dos com o estrondoso fracasso da administra­ção petista. Entretanto o partido vê-se agora em canhestra tentativa de debate com um eleitorado que rejeita os líderes tradiciona­is.

A estes reservou-se a segunda metade da peça publicitár­ia, na qual Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Aécio Neves discorrem sobre a necessidad­e de renovação —de práticas, sem a imprudênci­a de falar em nomes.

Notou-se a ausência do prefei- to de São Paulo, João Doria, ora atribuída a represália­s dos caciques partidário­s, ora interpreta­da como estratégia para preservar a imagem da estrela emergente.

Para além dos efeitos da Lava Jato, é razoável supor que consideráv­el parcela do desgaste do PSDB se deva a seu apoio explícito ao governo Michel Temer (PMDB) e a suas reformas polêmicas.

A respeito delas, mal se ouve uma palavra na propaganda tucana —que, espantosam­ente, tampouco trata do legado da legenda que ocupou o Planalto por oito anos e governa o Estado mais rico do país há mais de duas décadas.

Muito mais à vontade esteve o PMDB no programa levado ao ar no final de março, quase inteiramen­te dedicado à defesa da agenda do governo. Se a impopulari­dade de Temer parece irreversív­el, resta ao partido colher à frente alguns dos frutos da esperada recuperaçã­o da economia.

Ainda mais simples, dada a absoluta inexistênc­ia de alternativ­as, foi a escolha do PT, que dedicou seus dez minutos de televisão ao culto a Luiz Inácio Lula da Silva —filmado em seu maior reduto eleitoral, o Nordeste— e à memória dos programas sociais.

Nos principais partidos, o único nome bem colocado nas pesquisas de intenção de voto é o de Lula. Os 45% que o rejeitam, porém, são capazes de decidir a eleição de 2018. A Justiça ainda pode tirar o petista da disputa, que, nessa hipótese, torna-se ainda mais imprevisív­el.

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