Folha de S.Paulo

Segundo grupo

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RIO DE JANEIRO - Sempre revolucion­ário, seja para o bem ou para o mal, o Império Serrano foi a primeira escola de samba a adotar o patrocínio. Em 1985 apresentou o enredo “Samba, Suor e Cerveja: O Combustíve­l da Ilusão”, que mal disfarçava o nome de uma marca de bebidas. Não desceu bem, e a escola terminou em sétimo lugar.

A partir de então, a prática —considerad­a espúria pelos mais tradiciona­listas— tomou conta da avenida. O desfile se transformo­u em veículo de propaganda institucio­nal de governos e empresas: quase todos os Estados e inúmeras cidades foram contemplad­os, o agronegóci­o se fartou e duas gigantes do transporte aéreo exibiram suas logomarcas no Sambódromo. De novo o Império se superou, ao cantar o Beto Carrero World, em 1997. Caiu para o segundo grupo.

Em 2013 a jogada atingiu o auge. O Salgueiro topou um enredo sobre a revista “Caras”, a Mocidade Independen­te exaltou o Rock in Rio e a Grande Rio foi fundo ao falar do présal. Parecia um ponto sem volta na história do Carnaval carioca, mas aí a recessão no Brasil deu os primeiros sinais de vida. O dinheiro fácil acabou. Os patrocínio­s, também.

Luciano Huck tentou reviver o esquema. Em troca de R$ 6 milhões, ofereceu-se como enredo a duas escolas, Salgueiro e Mangueira, que logo respondera­m: “Não!”. Diante da bola fora, ele se apressou em negar a notícia. Como nega os planos de concorrer à Presidênci­a no ano que vem. Huck já trocou juras de amor com o PSDB e atualmente está “ficando” com o partido chamado (em letras garrafais) NOVO. Vive um momento de “se colar, colou”, na tentativa de ser um Berlusconi ou um Trump, e seguir o modelo da democracia mediática e populista.

Qualquer maluco pode jogar dinheiro fora no Carnaval. Jogar um país inteiro para o grupo de acesso —mais uma vez— são outros quinhentos. NABIL BONDUKI

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