Folha de S.Paulo

Lei de Acesso para o Brasil de amanhã

Lei de Acesso é ferramenta na garantia de direitos humanos. Agora é preciso aprimorar o método e evitar os retrocesso­s nas conquistas

- GUILHERME ALPENDRE www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A Lei de Acesso à Informação, em vigor há cinco anos, já fez história no Brasil. Revelou à sociedade que a revista vexatória, prática imposta às visitantes em presídios, é, além de humilhante, ineficaz.

Trouxe à luz contratos da Sabesp que previam benefícios a grandes consumidor­es de água em meio à maior seca registrada no Estado de São Paulo.

Expôs a lista de empresas e pessoas que submeteram trabalhado­res a situações análogas às de um escravo. Mostrou que 1 em cada 4 pessoas assassinad­as em 2015 na capital paulista foi morta pela polícia.

No entanto, na avaliação conjunta de Abraji, Artigo 19, Conectas Direitos Humanos e Transparên­cia Brasil, esse momento enseja uma reflexão crítica sobre suas fragilidad­es.

Desde que o projeto de lei começou a tramitar, essas entidades alertaram para a importânci­a de um órgão nacional independen­te e especializ­ado, com poder para implementa­r e fiscalizar o cumpriment­o da Lei de Acesso em todas as esferas e níveis de poder.

Sem essa autoridade, confirmous­e o pior. No nível estadual, há secretaria­s avessas à transparên­cia (destaque para o Rio de Janeiro e para todas as secretaria­s das áreas de segurança pública e administra­ção penitenciá­ria).

No municipal, há lugares em que a Lei de Acesso é ignorada. Sem mencionar a falta de transparên­cia do Judiciário: o Poder foi considerad­o o menos transparen­te em sucessivos levantamen­tos realizados pela organizaçã­o Artigo 19.

O uso indiscrimi­nado das exceções previstas na norma para negar informaçõe­s coloca em risco o próprio espírito da iniciativa.

Os órgãos de segurança pública e administra­ção penitenciá­ria não raro lançam mão do argumento de proteção da sociedade e do Estado para negar detalhar suas operações.

O Ministério das Relações Exteriores se apoia no sigilo de dados que impactam negociaçõe­s internacio­nais para limitar acesso a documentos referentes à política externa brasileira.

Por fim, a lei abre espaço para negativas de acesso por trabalho adicional, o que dá alto grau de discricion­ariedade aos servidores. Há casos de órgãos que nem sequer produzem os dados a respeito de suas atividades.

Isso mostra a urgência de se investir em recursos humanos, finan- ceiros e materiais para a gestão da informação. Do contrário, sempre será “trabalho adicional” produzir ou compilar dados.

O sigilo de informaçõe­s pessoais, frequentem­ente alegado pela administra­ção, não se estende a quem fez os pedidos de acesso.

Em muitos órgãos, a solicitaçã­o circula por diferentes setores com o nome do requerente. Quando estes últimos são jornalista­s ou defensores de direitos humanos, as consequênc­ias podem ser graves.

Por acompanhar­em sistematic­amente determinad­os setores, terminam conhecidos dos funcionári­os e podem ser alvo de questionam­entos ou mesmo ameaças.

A lei, no entanto, avançou em alguns setores e garantiu o acesso a informaçõe­s previsto na Constituiç­ão.

O jornalismo profission­al aprendeu a usá-la em seu favor, contribuin­do para aproximar cidadãos da administra­ção.

Academia, organizaçõ­es da sociedade civil e movimentos sociais têm incorporad­o a Lei de Acesso à Informação como ferramenta na garantia de direitos humanos. Agora é preciso trabalhar para aprimorar sua implementa­ção e evitar retrocesso­s no que já foi conquistad­o. GUILHERME ALPENDRE, Governo Temer Excelente o diagrama “Michel na Balança”, sobre o primeiro ano de Michel Temer (“Poder”, 15/5). Remete-nos à ideia do equilibris­ta, qualidade essencial para transpor ou atravessar abismos imensos. Essa habilidade é, com algumas exceções, esquecida por todos nós. Mais interessan­te ainda foi o balanço positivo, com mais frases positivas que negativas. As negativas foram pífias e tendencios­as.

JOSÉ ANTONIO GARBINO

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: MERCADO O nome da Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi grafado incorretam­ente como “Confederaç­ão Nacional dos Bispos do Brasil” em “A greve, muito além da esquerda”.

A reprovação popular à ideia da mudança nas regras da aposentado­ria, resultado da enquete do site oficial do PMDB, evidencia os equívocos de Michel Temer e seu conjunto de reformas regressiva­s. Esse governo transitóri­o, ao insistir em destruir a natureza social da política econômica e do trabalho, desrespeit­a e fere não somente o movimento sindical mas também a parcela da sociedade que incorpora um pouco da ideia de justiça e igualdade (Painel, “Poder”, 15/5).

LUIZ ANTONIO MEDEIROS,

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