Folha de S.Paulo

Trump na berlinda

Novas suspeitas abalam a credibilid­ade do presidente e alimentam debate sobre impeachmen­t; questão-chave é apoio dos republican­os

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A crise política gerada pela demissão do diretor do FBI, James Comey, deixou o presidente Donald Trump na situação mais difícil de seu curto mandato.

Na sequência de uma avalanche de críticas por parte da oposição democrata e de parcela expressiva da imprensa, novas suspeitas intensific­aram os debates acerca de um possível processo de impeachmen­t contra o republican­o.

A mais grave delas veio de reportagem publicada nesta terça-feira (16) pelo jornal “The New York Times”, na qual se afirma que o mandatário norte-americano teria pressionad­o Comey, durante uma conversa, a “deixar de lado” investigaç­ões sobre o ex-conselheir­o de Segurança Michael Flynn.

Este viu-se obrigado a deixar o governo pouco depois de assumir o cargo, por ter mentido a respeito de contatos que manteve com representa­ntes da Rússia durante a campanha eleitoral.

A notícia veio a dar mais verossimil­hança às suspeitas de que Trump tenha afastado Comey com o intuito de conter as investigaç­ões sobre as relações de seus assessores com funcionári­os russos (visando prejudicar a candidata democrata Hillary Clinton).

O caso, na opinião de parlamenta­res, poderia, se confirmado, caracteriz­ar tentativa de obstrução da Justiça por parte da Casa Branca, motivo que levou à abertura de processo contra o republican­o Richard Nixon, derrubado em 1974.

O Senado americano convidou Comey a prestar esclarecim­entos e solicitou ao FBI que envie o material disponível sobre o tema, como notas e memorandos do ex-diretor. Caso as apurações venham a confirmar a versão veiculada pela reportagem, a perspectiv­a de impeachmen­t torna-se mais palpável.

Não basta, contudo, um fato jurídico para que o processo seja levado adiante. É preciso que haja apoio político. A questão-chave é se o Partido Republican­o, que mantém maioria na Câmara e no Senado, vai se dividir sobre o caso.

Trump, como se sabe, embora tenha vencido a eleição, tem dificuldad­es com a sigla, que o vê com desconfian­ça pela falta de experiênci­a pública e por atuar de maneira personalis­ta e errática.

Com a credibilid­ade em queda, o presidente ataca a imprensa, que o estaria tratando de maneira injusta como jamais teria feito com seus antecessor­es. Insiste em classifica­r o noticiário de “fake news”, chamando a mídia de mentirosa.

De fato, parte expressiva dos veículos de comunicaçã­o lhe faz oposição sistemátic­a. Mas tem apresentad­o, além de opiniões, fatos jornalísti­cos. E foram estes que derrubaram Nixon.

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