Folha de S.Paulo

O raio caiu sobre Temer

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BRASÍLIA - O ato falho do apresentad­or William Bonner, que chamou Michel Temer de ex-presidente na abertura do “Jornal Nacional”, reflete a gravidade da nova crise que se instalou sobre o Planalto.

A notícia de que Temer deu aval à compra do silêncio de Eduardo Cunha deu início a conversas sobre o que parecia quase impossível: a segunda queda de governo em um ano.

A hipótese de afastament­o do presidente passou a dominar as rodas no Congresso poucos minutos depois de o jornal “O Globo” revelar a gravação feita pelo empresário Joesley Batista no Palácio do Jaburu.

Se Temer não provar que foi dublado por um imitador de raro talento, sua situação tende a ficar insustentá­vel. Não há registro, na história recente do país, de um flagrante tão grave envolvendo a conduta pessoal de um presidente no cargo.

A fita entregue pelo dono da JBS à Procurador­ia é demolidora. O empresário avisa ao presidente que está pagando uma mesada para man- ter Cunha calado. A resposta de Temer dispensa qualquer explicação: “Tem que manter isso, viu?”.

Todo brasileiro bem informado sabia do potencial do ex-deputado, hoje preso, para implodir o governo do velho aliado. Agora Cunha pode entrar nos livros como protagonis­ta da derrubada de dois presidente­s.

Um dos líderes mais impopulare­s da história do Brasil, Temer se sustentou até aqui com apoio do mercado e do empresaria­do, que viram nele um aliado capaz de aprovar reformas igualmente impopulare­s. Se ficar claro que o presidente perdeu as condições de cumprir a tarefa, ele tende a ser abandonado com rapidez.

Entre os caminhos que já começaram a ser discutidos por aliados do governo, estão renúncia, impeachmen­t e cassação via TSE, o que poderia abrir caminho a uma nova eleição presidenci­al. Na coluna passada, escrevi que a última hipótese estava praticamen­te descartada, a não ser que um raio caísse sobre Brasília. O raio acaba de cair sobre Temer.

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