Folha de S.Paulo

Irmãos lideraram expansão da empresa e ampliaram laços com o universo político

- RAQUEL LANDIM

Caçula de três irmãos, o empresário Joesley Batista, 44 anos, foi o responsáve­l por transforma­r a empresa da família, antes um pequeno frigorífic­o no interior de Goiás, na maior produtora de carne bovina do mundo.

Ele tinha apenas 33 anos quando assumiu a presidênci­a da empresa e comandou os lances mais ousados e polêmicos da JBS: a compra do rival Bertin e da americana Pilgrim’s Pride.

As aquisições foram financiada­s pelo BNDES, que já tinha investido no Bertin seguindo a política de escolha de “campeões nacionais” do governo do PT.

A amigos, Joesley confidenci­ou que aceitou comprar o Bertin, que vinha com problemas financeiro­s, a pedido do BNDES, mas colocou como condição adquirir também a Pillgrim’s Pride.

Considerad­a de mestre, a jogada empresaria­l colocou a JBS de vez no radar da imprensa, que questionav­a o apoio do BNDES.

Joesley se sentiu vítima de preconceit­o por sua origem humilde e chegou a perguntar numa entrevista se tinha “jogado pedra na cruz” para ser tão perseguido pela imprensa.

Na semana passada, os empréstimo­s do BNDES se tornaram alvo da Operação Bullish, da Polícia Federal, a quinta investigaç­ão aberta contra a empresa desde o ano passado.

Ele se afastou do comando da JBS em 2011, deixando o cargo para o irmão do meio, Wesley, que comandava as operações nos Estados Unidos. O mais velho, José Batista Sobrinho Junior, pouco se envolve nos negócios do grupo.

Naquela época, a intenção já era tentar blindar a JBS das notícias negativas envolvendo Joesley. Pessoas próximas ao grupo afirmam que ele conduzia diretament­e as

Grupo J&F, dono da JBS, já foi alvo de cinco operações da Polícia Federal

negociaçõe­s com os políticos para defender os interesses da empresa.

Na época em que Eduardo Cunha foi candidato a presidênci­a da Câmara, Joesley ligou pessoalmen­te para deputados pedindo votos. Hoje na cadeia, Cunha está no centro da delação premiada do empresário.

Mesmo afastado do dia a dia da JBS, Joesley manteve muito poder. Assumiu a presidênci­a da holding J&F, que engloba as demais empresas da família, como Eldorado (celulose), Vigor (latícinio), Flora (higiene e limpeza) e o banco Original.

Em 2015, Joesley deu outro passou ousado e comprou a Alpargatas, dona das marcas Havaianas, Osklen, Timberland e Mizuno.

Casado com a apresentad­ora de TV Ticiana Vilas Boas, Joesley negou em fevereiro em entrevista à Folha ter cometido qualquer irregulari­dade. Os próximos dias vão demonstrar se ele estava mentindo. Ações da JBS Progressão do valor das ações, em R$ Contribuiç­ões eleitorais da JBS Quanto a empresa doou, em R$ milhões 2002 2006 2010 2014 0,2 19,7 83,0 A bancada da JBS Quem se elegeu com a ajuda da empresa em 2014 > 1 presidente Dilma Rousseff > 6 governador­es (CE, PA, RN, PB, RS, DF) > 1 senador Antônio Anastásia (PSDB) > 164 deputados federais

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Zanone Fraissat - 29.ago.2013/Folhapress Os irmãos Wesley e Joesley Batista, durante evento em que a JBS recebeu prêmio em 2013

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