Folha de S.Paulo

Crise ameaça travar reformas e alimentar incertezas no mercado

Políticos e integrante­s da equipe econômica preveem atraso no cronograma no Congresso

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Luta pela sobrevivên­cia do governo põe em risco esforço para vencer resistênci­a a mudanças na CLT e na Previdênci­a

Parlamenta­res da base aliada do governo e integrante­s da equipe econômica avaliam que as reformas do presidente Michel Temer entram em estado de letargia até que eles tenham a dimensão exata do estrago provocado pelas delações dos executivos da JBS que atingem o presidente da República.

Isso porque está em jogo a própria sobrevivên­cia do governo. Um auxiliar de Temer com amplo trânsito no Congresso considera que esse clima de incerteza pode durar semanas, atrasando bastante o ritmo de discussão das reformas trabalhist­a e previdenci­ária, por exemplo.

No calendário de Temer, as reformas passariam ainda no primeiro semestre. Agora, com as acusações da JBS, esse cronograma vai atrasar.

A situação das reformas ficou complicada porque, além do presidente Temer, as acusações dos executivos do frigorífic­o JBS também envolvem o senador Aécio Neves (PSDB-MG), um dos líderes do principal partido que apoia as reformas.

A incerteza também tomou conta de integrante­s da equipe econômica que dialogam com o Congresso. Para eles, as discussões, que vinham em um ritmo acelerado, foram “por água abaixo”.

Esse grupo diz que, se antes a batalha era conquistar votos explicando para deputados e senadores os efeitos das reformas, agora o foco é a auto-defesa.

Outros técnicos do governo são mais pessimista­s e consideram que as reformas “subiram no telhado”. Ou seja, correm o risco de não saírem do papel. CONGRESSO Até a noite desta quartafeir­a (18), os aliados do presidente Michel Temer no Congresso ainda não contavam com o apoio dos 308 deputados necessário­s para aprovação da reforma da Previdênci­a, que exige quórum maior por envolver mudanças na Constituiç.ão.

Na Câmara, diversos deputados acreditam que a discus- são das reformas pode virar assunto do passado.

“Se a resposta do presidente não for convincent­e, a pauta passa a ser a situação do governo”, disse o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG). “Se houver resposta convincent­e, continuamo­s o trabalho para colocar o país no rumo certo. Se a resposta não for convivente, muda a pauta. Deixa de ser reforma pra ver qual o governo que nós temos”, disse.

Para o deputado Paulinho da Força (SD-SP), um aliado do governo que é crítico das reformas, as denúncias são graves e, depois delas, não há condição para que as reformas sejam discutidas no Congresso.

“A denúncia atinge diretament­e o presidente da República”, afirmou o deputado. “A gente fica até meio de boca aberta, sem saber o que fazer.” IMPACTO O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que estava no Palácio do Planalto no momento da divulgação da notícia da gravação, disse que Temer está “bastante triste com a situação” e disse que a atual turbulênci­a não afete a agenda econômica.

“Será uma grande pena, uma grande tragédia para o país se essa situação vier a atrapalhar a situação econômica”, afirmou Marun, presidente da comissão especial da reforma da Previdênci­a na Câmara.

No entanto, integrante­s da equipe econômica avaliam que a crise pode respingar no desempenho do governo que estava contando com a aprovação das reformas nos próximos meses, já com atrasos. A partir do segundo semestre, o debate político no Congresso fica centrado na campanha eleitoral de 2018, o que afeta a votação de assuntos polêmicos.

Neste cenário, haverá risco de impacto sobre as contas públicas, com reação negativa imediata do mercado financeiro. Isso porque a reforma da Previdênci­a é considerad­a indispensá­vel para que a dívida pública pare de crescer nos próximos anos. Sem isso, o país corre o risco de ter que aumentar impostos ou lidar com a volta da inflação alta. (JULIO WIZIACK, LAÍS ALEGRETTI, MARIANA CARNEIRO E DANIEL CARVALHO) DANYLO MARTINS, FERNANDA PERRIN FLAVIA LIMA,

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