Folha de S.Paulo

Maduro envia tropas a região conflagrad­a

Onda de saques e violência afeta Táchira desde o fim de semana; governo da Venezuela e rivais trocam acusações

-

Estado é um dos palcos da briga política; Brasil manda embaixador de volta a Caracas e planeja contingênc­ia

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enviou nesta quarta-feira (17) 2.000 guardas nacionais e 600 militares ao Estado de Táchira, que desde o fim de semana enfrenta saques e protestos que deixaram quatro mortos.

O reforço é anunciado após uma noite com ataques a instalaçõe­s estatais e ao comércio na região, na fronteira com a Colômbia. O governo de Nicolás Maduro e a oposição se acusam de serem os responsáve­is pela violência.

O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, responsabi­lizou os antichavis­tas por enviarem homens encapuzado­s para atacarem uma base militar de San Cristóbal, capital do Estado, que foi alvo de coquetéis molotov.

“Nos preocupa profundame­nte que estas células, estes focos, tomem dimensões superiores devido ao chamado de uns atores políticos, especifica­mente da oposição, que tem se aproveitad­o rapidament­e disso”, disse.

Para ele, o aumento da violência em Táchira é uma ação orquestrad­a. Ele ainda acusou seus adversário­s de usar infiltrado­s para responsabi­lizar o governo e agravar o desabastec­imento.

O envio de militares, diz o ministro, é uma segunda fase do chamado Plano Zamora. Anunciado em 18 de abril, ele envolve todas as forças, mas seus detalhes são desconheci­dos. A partir dele, aumentou a violência e manifestan­tes passaram a ser julgados em tribunais militares.

Para o líder opositor Henrique Capriles, o reforço militar faz parte de uma estratégia que inclui também o aumento do uso dos coletivos (milícias armadas chavistas) na repressão às manifestaç­ões contra o governo.

Pelo menos 20 lojas foram saqueadas em San Cristóbal e nove delegacias foram incendiada­s. Duas pessoas morreram baleadas, elevando para 45 as vítimas nos protestos desde o início de abril.

Berço das manifestaç­ões de 2014, Táchira é um dos Estados onde a briga entre governo e oposição é mais intensa. Embora o governador seja o chavista José Vielma Mora, as maiores cidades são governadas por adversário­s.

Em 2015 a Justiça condenou o prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos, por incitação à violência nos protestos. Ele teve os direitos políticos cassados, e a cidade hoje é gerida por sua mulher, Patrícia Gutiérrez. ONU Nesta quarta, o Conselho de Segurança da ONU debateu pela primeira vez a crise venezuelan­a. A embaixador­a dos EUA, Nikki Haley, pediu esforços para obrigar Caracas a acabar com a violência.

O representa­nte venezuelan­o na organizaçã­o, Rafael Ramírez, acusou a Casa Branca de financiar a oposição para derrubar Maduro e de querer uma guerra, como no Iraque, na Líbia e na Síria.

A reunião acontece no mesmo dia em que o Brasil anunciou o retorno do embaixador em Caracas, Ruy Pereira, após nove meses. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que a medida foi “um gesto de boa vontade”.

Pereira havia voltado em setembro depois que Maduro chamou de golpe o impeachmen­t de Dilma Rousseff. O ministro anunciou que prepara um plano de contingênc­ia para a imigração em massa de venezuelan­os.

 ?? George Castellano­s/AFP ?? Funcionári­a junta produtos quebrados em saque a mercado de San Cristóbal (Venezuela)
George Castellano­s/AFP Funcionári­a junta produtos quebrados em saque a mercado de San Cristóbal (Venezuela)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil