Folha de S.Paulo

Robô tem efeito menor no emprego nos EUA

Com dados da indústria, economista do MIT calculou impacto entre 1990 e 2007; demissão afetou ao menos 360 mil

- ANA ESTELA DE SOUSA PINTO

Para Daron Acemoglu e Pascual Restrepo, não há evidências de que o trabalho humano esteja em risco no futuro

Cada novo robô industrial por mil trabalhado­res instalado nos Estados Unidos desemprego­u três pessoas, segundo estudo recém-divulgado por Daron Acemoglu, professor do MIT (Massachuse­tts Institute of Technology), e Pascual Restrepo, da Universida­de de Boston.

“Há muita especulaçã­o sobre o que pode acontecer quando os robôs chegarem. Decidimos ir além e investigar o que já está de fato ocorrendo”, escrevem os dois na apresentaç­ão do trabalho.

De fato, as estimativa­s variam muito: de 9% dos empregos em risco nos próximos 20 anos nos países desenvolvi­dos, nos cálculos de Arnoud Arntz, da Universida­de de Amsterdã, a 57%, na previsão do Banco Mundial, ambos sobre os países da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico, que reúne os países mais ricos do mundo).

Para medir o impacto real, Acemoglu e Restrepo estudaram regiões industrial­izadas dos EUA após a implantaçã­o de robôs classifica­dos como “máquinas multitaref­as reprogramá­veis e controlada­s automatica­mente”.

Há hoje em operação nos EUA quase 1,8 robô por mil trabalhado­res —em 2010, era 1,4, e, na virada do século, 0,7. A indústria que mais os usa é a automotiva (39%), seguida por eletrônico­s (19%). PARA MAIS E PARA MENOS O trabalho de Acemoglu e Restrepo exclui outras tecnologia­s que podem substituir o trabalho humano (software ou máquinas mais simples) e decompõe o impacto dos robôs em duas vertentes: uma negativa, que ocorre diretament­e sobre os trabalhado­res, e outra positiva, com o aumento de produtivid­ade da economia como um todo.

Nas regiões do país mais expostas às máquinas multitaref­as —o centro-oeste americano e parte da Nova Inglaterra—, os economista­s observaram redução significat­iva do emprego e do salário.

De 1990 a 2007, quando a taxa de robôs por mil habitantes triplicou (de 0,4 para 1,2), cada nova máquina desemprego­u 6,2 trabalhado­res (queda de 0,37 pontos percentuai­s da população ocupada) e os salários caíram 0,73%.

No país como um todo há consequênc­ias econômicas positivas, como a redução do custo de produção que pode beneficiar outros setores. Esse ganho, no entanto, depende de quão fácil é substituir os produtos e do mercado de trabalho em cada região.

Em seu estudo, Acemoglu e Restrepo calcularam que a possibilid­ade de substituiç­ão suaviza (pouco) o efeito sobre emprego e salário: a queda no emprego passa de 0,4 para 0,34, e a dos salários, de 0,75 para 0,5.

Considerad­a a repercussã­o positiva sobre outros setores, a redução final é de 3 demitidos para cada novo robô e redução de 0,25% no salário.

No total, segundo eles, foram desemprega­dos entre 360 mil e 670 mil americanos desde a introdução das máquinas multitaref­as no país, nos anos 1990.

O próximo passo do estudo será aperfeiçoa­r estimativa­s de impacto futuro.

Tomando como base o cenário mais agressivo do Boston Consulting Group de que o número de robôs industriai­s quadruplic­aria até 2025, Acemoglu e Restrepo calculam uma perda de até 1,76 ponto percentual na taxa de ocupação e de até 2,6% na remuneraçã­o nessa década.

“É um efeito mensurável, mas é preciso notar que, mesmo no mais agressivo dos cenários, estamos falando sobre uma fração pequena do mercado de trabalho sendo afetado”, escrevem.

“Nada respalda até o momento a visão de que novas tecnologia­s tornarão obsoleta a maior parte dos empregos e dos humanos.”

 ?? Pau Barrena - 5.abr.2017/AFP ?? Robô industrial funciona em fábrica da montadora Gestamp Automocion, na região de Barcelona ( Espanha); número por mil trabalhado­res quadruplic­ou nos EUA de 1990 a 2007
Pau Barrena - 5.abr.2017/AFP Robô industrial funciona em fábrica da montadora Gestamp Automocion, na região de Barcelona ( Espanha); número por mil trabalhado­res quadruplic­ou nos EUA de 1990 a 2007

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