Locutor ganha fama pelo país com defesa de rodeios e desmatamento
Alvo do NYT, Cuiabano Lima, 40, virou principal voz pró uso de animais pelo homem
ENVIADO ESPECIAL A BARRETOS
Quem critica rodeio não conhece os animais, que foram feitos para serem usados pelo homem. Quem fala de danos à sanidade física e mental dos touros não pode nunca ir num abate de frigorífico, porque vai ter um infarto. Isso tudo é preconceito dos grandes centros urbanos contra os homens do campo.
As afirmações são de Andraus Araújo de Lima, 40, que, pregador de ideias polêmicas, se tornou um dos principais locutores de rodeios em atividade no Brasil.
Homônimo do edifício atingido por um incêndio em 1972, ele adotou Cuiabano Lima no mundo das arenas (“meu pai quis fazer média com um amigo que tinha esse nome”).
Após duas décadas convivendo com peões, artistas, touros e cavalos, transformou-se na voz mais ativa em defesa dos rodeios —que enfrentam cada vez mais questionamentos judiciais e de entidades de proteção animal.
Personagem de entrevista publicada em janeiro no “New York Times”, Cuiabano difunde a ideia de que há preconceito com o interiorano. “A gente vê ressentimento com o caboclo que usa bota e chapéu. Tem gente que acha que conhecimento é ler Einstein, conhecer química ou física.”
Além de polemizar com críticos dos rodeios, Cuiabano comprou outras brigas nos últimos meses, ao afirmar que é possível desmatar muito ainda, ao pedir reformulação do Código Florestal e defender frigoríficos após as suspeitas decorrentes da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal.
Cuiabano, que já foi patrocinado pela Friboi e cria gado, distribuiu áudios via WhatsApp e redes sociais para defender a carne nacional.
À Folha, admitiu ter desmatado dez alqueires de sua fazenda —o equivalente a 33,6 campos de futebol padrão Fifa— para plantar seringueiras.
“Desmatei, mas plantei 25 mil árvores. Existe um equilíbrio da natureza em relação ao desmatamento. A natureza se recupera, tem o poder da revegetação. Se você cortar um pé de pequi e o guarda te prender, é melhor matar o guarda, porque caso contrário você vai preso. Sobrevoei Mato Grosso duas horas e meia e nunca vi tanta floresta na minha vida. Na Amazônia, então, nem se fala”, afirma.
Para ONGs como a Amor de Bicho Não Tem Preço e PEA (Projeto Esperança Animal), os rodeios e vaquejadas causam maus-tratos aos animais e deveriam ser banidos.
Os principais argumentos são os de que os touros só pulam por sofrerem tortura com o sedém (cinta de lã colocada na virilha dos bois) preso aos testículos e choques elétricos antes das montarias e por enfrentarem estresse nas festas —devido à excessiva iluminação e ao barulho.
Para Cuiabano, “o sedém não causa nenhuma lesão ao animal”. “E o pessoal que faz hipismo ou os animais do Jóquei? Lá não tem problema? Ninguém fala nada.” REINVENÇÃO Para se manter relevante no ambiente caipira, os rodeios passam por reformulação, como forma de atrair mais público e superar as críticas e a crise, segundo Cuiabano.
No ano passado, rodeios tradicionais do interior de São Paulo, como os de Americana, Limeira, Jaguariúna e Jales, sofreram redução, devido à crise, à falta de novidades artísticas e às ações de ONGs de defesa animal.
“Antigamente, o cantor sertanejo precisava do rodeio para poder tocar. Hoje o rodeio é refém do sertanejo. No [anúncio do] rodeio, ninguém fala nome do touro, do peão, do locutor ou do salva-vidas, só da grade de shows. A juventude está cada vez mais perdendo as tradições.”
A saída, para ele, é conseguir divulgar melhor os rodeios, tornar as disputas mais interessantes ao público e unificar a modalidade. Ele mesmo diversificou: além de rodeios, narra vaquejadas, apresenta festivais de música, faz eventos institucionais e até Carnaval. Esteve em abril em Lisboa, Bruxelas e Londres apresentando shows de Marília Mendonça e Maiara & Maraisa, entre outros.
“É difícil ter unidade, cada um faz o seu e só. Precisamos unificar e punir quem faz coisa errada. Fui chamado de bobo da corte, de ‘produto do meio’. Mas sou mesmo.”