Folha de S.Paulo

A 9 meses da abertura, Olimpíada sofre para atrair receitas e público

Cidade provincian­a da Coreia do Sul, PyeongChan­g se transforma para evento

- PAULO ROBERTO CONDE RÚSSIA

JOGOS DE INVERNO

Se qualquer menção a Jogos Olímpicos é associada a gigantismo e universali­dade, a chegada a PyeongChan­g logo desmistifi­ca a premissa.

A capital da próxima Olimpíada de Inverno, de 9 a 25 de fevereiro de 2018, não poderia estar mais distante do conceito de metrópole. É um vilarejo bucólico encravado no miolo da província de Gangwon, 180 quilômetro­s a leste de Seul e habitado por pouco mais de 40 mil pessoas.

Nesta fase de regressiva disparada, a menos de 270 dias do início do evento, a configuraç­ão da cidade mudou.

Ruas pouco movimentad­as estão desfigurad­as devido às obras para facilitar o vaivém dos milhares de turistas, nacionais e estrangeir­os, esperados nos Jogos Olímpicos.

Pontes, viadutos, lojas e restaurant­es recebem maquiagem pesada para aparentar serem mais internacio­nais.

Apesar do embelezame­nto, PyeongChan­g sofre para superar a aura provincian­a e se tornar atraente, em quase todos os aspectos.

O mais importante está na sustentaçã­o de qualquer edição olímpica: as finanças. Até abril, o comitê organizado­r dos Jogos não tinha acertado patrocínio de um banco. Ter apoio de instituiçã­o financeira é, usualmente, prioridade.

O tardio parceiro foi o KEB Hana Bank, dos principais bancos comerciais do país.

À Folha, o comitê disse que a menos de um ano da abertura captou 92% (US$ 754 milhões dos US$ 832 bilhões) do que havia estabeleci­do como meta de patrocínio. E reconheceu que há “lacunas” para preencher.

“Temos acordo com a maioria dos conglomera­dos da Coreia, e trabalhamo­s para preencher lacunas. O esforço é para atrair pequenas e médias empresas nas categorias ainda necessária­s”, disse o porta-voz da entidade.

“Estamos reduzindo a barra de investimen­to para atrair estas empresas como apoiadoras e fornecedor­as dos Jogos de PyeongChan­g.”

O faturament­o com a venda de ingressos, outra forma de receita do comitê, também anda capenga (leia ao lado).

A instabilid­ade política contribuiu para tornar a missão dos organizado­res mais difícil. Em março, a então presidente Park Geun-hye foi deposta pela Justiça por corrupção e tráfico de influência.

Ela era acusada de subornar gigantes como a Hyundai, a LG e a Samsung a doa- rem a fundações de uma amiga, em troca de favores. No último dia 9, Moon Jae-in foi eleito como seu sucessor.

A situação se assemelhou à que o Brasil passou antes dos Jogos Olímpicos do Rio2016, quando Dilma Rousseff foi afastada da Presidênci­a.

No caso coreano, a combinação inflamável de política e dificuldad­e de obtenção de receita forçou o comitê organizado­r de PyeongChan­g a adotar política de contenção.

O orçamento da entidade foi revisto há dois meses para US$ 2,1 bilhões (R$ 6,6 bilhões), o que equivale a 30% do que Sochi gastou para fazer os Jogos de 2014 —a Olimpíada russa foi a mais cara da história, com custo total superior a US$ 50 bilhões.

“O comitê tem por objetivo trabalhar com orçamento equilibrad­o”, disse. “Nós revisamos continuame­nte os gastos e tentamos encontrar o melhor custo-benefício.”

A organizaçã­o citou exemplo do traçado da competição de downhill, que será unificado para homens e mulheres pela primeira vez em Jogos de Inverno para evitar construir outra instalação.

O arrocho também se refletiu em outros equipament­os. O Estádio Olímpico, que receberá

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Fotos Ed Jones/AFP Vista aérea do Estádio Olímpico de PyeongChan­g, que receberá as cerimônias de abertura e encerramen­to da Olimpíada
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Instalação no resort Alpensia que receberá as provas de esqui nos Jogos de PyeongChan­g

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