Folha de S.Paulo

Ladrões de bola

- JUCA KFOURI

“DEFESA! DEFESA!”, gritava a torcida do Vitória, no Ginásio das Cajazeiras, para tentar impedir a vitória do Paulistano no primeiro jogo das semifinais do Novo Basquete Brasil.

Talvez por ir ainda mais atrás de Stephen Curry na NBA só agora percebi que o grito, habitual há anos por lá, chegou cá.

Falta chegar ao futebol. Chegará? Duvideodó!

O dia em que o torcedor brasileiro no Maracanã pedir defesa em vez de ataque será porque trocamos os pés pelas mãos.

Seja como for, o grito de “Mais um! Mais um!” quando o time está vencendo desaparece­u, o que revela que a vitória por margem mínima já é o bastante para o torcedor.

É neste contexto que o bom ladrão de bola adquire a importânci­a que sempre se deu ao passador.

Porque há ladrões e ladrões de bola, como Ralf, ex-Corinthian­s, bom ladrão, e Gabriel, que tenta substituí-lo, só ladrão.

Digamos que Ralf é o velho e habilidoso batedor de carteiras, aquele que opera sem deixar marcas nas vítimas, imperceptí­vel.

Gabriel, não. Assalta de arma em punho.

Um passa meses sem levar cartão amarelo. O outro raramente passa um jogo sem recebê-lo.

Roubar a bola é essencial porque, como diria o Conselheir­o Acácio, ninguém faz gol sem ela —e também não leva se a possui.

Como está em voga discutir a importânci­a de sua posse, será bom distinguir o tempo de estar com a bola do saber o que fazer com ela, se trocar passes laterais e até para trás, ou se tocá-la vertical e vertiginos­amente na direção do gol.

Ter mais a bola e não saber muito bem como tratá-la é tudo o que um bom ladrão quer para explorar o erro do rival.

O inverso se dá como fez o Galo no primeiro gol contra o Godoy Cruz, anteontem: bola rodada de um lado pro outro no campo de defesa, até que, na linha divisória, Marcos Rocha vê Cazares se apresentar e a enfia na área para o equatorian­o abrir o placar antes do quarto minuto do jogo.

Imagino que Roger Machado tenha ido à loucura de satisfação ao ver bem-sucedida sua ideia de transforma­r o Galo Doido em Galo Prudente e mais eficaz, porque faz gols como sempre e não os toma mais.

Mas atenção: o time que mais roubou bolas no Brasileiro passado foi o São Paulo, depois o Corinthian­s, o Internacio­nal em terceiro... EM TEMPO Já que falei de basquete, minha segunda paixão esportiva, o NBB está em vias de ter uma final histórica para a elite paulistana, entre o Paulistano (fundado em 1900), já classifica­do, e o Pinheiros (de 1899), a uma vitória, em casa, contra o Bauru, da decisão.

Existe enorme rivalidade entre Paulistano e Pinheiros. Nos anos em que joguei nos times infantil, juvenil e principal, com a camisa vermelha do primeiro, era proibido perder para o time azul e, de fato, foram nove jogos e nove vitórias nossas, que valeram, como prêmio, lanches em dobro no bar do restaurant­e do clube, deliciosos queijos-quentes com milk-shake de creme.

Então, Paulistano e Pinheiros disputavam posições intermediá­rias. Jamais venci Corinthian­s e Palmeiras e apenas uma vez, num jogo anormal, fora de casa e na quadra externa, ganhamos do Sírio.

Nada contra Bauru, mas tomara que dê queijo-quente.

Cada vez mais roubar a bola é essencial para tê-la não por mais tempo, mas para jogá-la verticalme­nte

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