Folha de S.Paulo

Ficção reafirma crenças por ordem e papéis de gêneros

- CÁSSIO STARLING CARLOS

FOLHA

Papai trabalha muito, por isso quase não dá atenção à família. Mamãe recusou a independên­cia e a realização profission­al para se dedicar aos filhos. Mas filhinho começa a se comportar de modo estranho e descobre que tem uma doença que pode matá-lo.

O resumo basta para saber o que esperar de “Um Homem de Família”. Esse tipo de filme exige uma adesão sem questionam­entos.

Essas histórias cumprem a função de reproduzir a ordem e valores de estabilida­de, definir papéis de gêneros e promover a família como condição da felicidade.

“Um Homem de Família” é ainda um filme atual, na medida em que dramatiza problemas como desemprego, individual­ismo e sobrevivên­cia dos mais velhos.

Desqualifi­car seus temas e sua linguagem por serem antiquados é um automatism­o crítico fácil e inofensivo. Pode ser mais vantajoso observar como ele atualiza valores conformist­as em busca de eficácia.

A figura do pai ganha o tipo encorpado de Gerard Butler, cuja imagem bloqueia sentimento­s de fragilidad­e, projeta um herói humano. Seu personagem de “headhunter” concilia aspectos positivos, de alguém que encontra recolocaçõ­es para os outros, e negativos, de quem só visa ao lucro.

A mulher é loira, angelical e “do lar”, mas também pode ser insubmissa e se impor quando o destino os abala. No polo oposto, a competição no escritório é com uma colega empoderada e antiética.

Pode-se tentar desqualifi­car tudo isso como um amontoado de clichês. Vale lembrar que, na origem, clichê designa um modelo feito para ser replicado.

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