CRÍTICA ‘Um Casamento’ expõe produção com coragem
Em documentário, Mônica Simões conta a história da união de seus pais a partir das memórias da mãe, Maria Moniz
O documentário “Um Casamento” é como uma escultura do Mestre Didi (19172013), baiano como a principal figura do filme, Maria Moniz. Ambos podem ser vistos por vários ângulos, e todos são surpreendentes.
A partir da descoberta da filmagem do casamento dos seus pais, em 1954, a diretora Mônica Simões decidiu contar a história da união do casal, formado pelo professor Ruy Simões e por Maria Moniz, que mais tarde se tornaria atriz.
Além das imagens da época, a cineasta se baseia nas lembranças da mãe, uma mulher de 82 anos. O prólogo pode insinuar um filme delimitado pelas convenções românticas de uma sociedade conservadora, mas bastam alguns minutos, contudo, para que percebamos que nada é o que parece ser.
Os caminhos tomados por Maria não se acomodavam ao seu tempo. Nesse sentido, “Um Casamento” é uma obra profundamente feminista.
A trajetória da atriz, que se destacou no cinema e no teatro da Bahia a partir dos anos 1960, resulta instigante por si só, o que não impede que outras camadas do filme se revelem. O documentário também trata da íntima ligação entre as mulheres da família e a imagem.
A mãe, Maria Moniz, lembra a juventude ora com discreto prazer, ora com angústia. A nostalgia fica de lado. Já a sua filha, a diretora Mônica Simões, tem saudade de um tempo que não viveu.
Aliás, a presença da cineasta diante das câmeras nos leva a um outro aspecto. “Um Casamento” expõe seus métodos de produção com uma coragem incomum.
Acompanhamos Mônica Simões orientando sua mãe em frases como “O mais importante vai ser sua espontaneidade”. O quanto há de artifício no documentário?Acineastanãooferece respostas, mas joga com esses limites do início ao fim. DIREÇÃO Mônica Simões PRODUÇÃO Brasil, 2016, livre QUANDO estreia nesta quinta (18) AVALIAÇÃO muito bom JOSÉ SIMÃO O colunista volta a escrever neste espaço em 30/5