Folha de S.Paulo

Cuba investe em hotéis de luxo de olho nos turistas norte-americanos

Prédios históricos estão sendo reformados para abrigar empreendim­entos de redes internacio­nais

- AILI MCCONNON

Uma das novidades é o Manzana, que tem previsão de lançamento para junho, com diárias que passam de R$ 2.000

No Parque Central de Havana, bancos à sombra atraem tanto turistas com mojitos quanto moradores interessad­os em bater papo.

O ponto de encontro, no centro da cidade, vive cercado de carros coloridos fabricados nos anos 1950. Mas outros veículos começaram a circundar a praça recentemen­te, carregando equipament­os de construção usados para transforma­r velhos edifícios locais em hotéis de luxo.

Após o degelo nas relações diplomátic­as entre Cuba e os Estados Unidos, o ramo imobiliári­o cubano aqueceu.

O afrouxamen­to das restrições às empresas privadas, a melhora no relacionam­ento com os Estados Unidos e a necessidad­e financeira —o PIB (Produto Interno Bruto) cubano caiu em 2016, de acordo com os números oficiais— alimentara­m essas mudanças.

Mas restam obstáculos entre a demanda reprimida e o avanço dos hotéis de luxos na ilha. Isso porque serviços básicos nem sempre são confiáveis, a pobreza generaliza­da atrapalha e tarefas cotidianas, como obter ingredient­es para preparar uma refeição de bom padrão gastronômi­co, podem se provar complicada­s.

Mais de 4 milhões de turistas visitaram o país em 2016, número 13% superior ao do ano anterior, de acordo com o Ministério do Turismo. Entre esses visitantes, 614 mil eram norte-americanos —34% a mais do que em 2015.

Liderando a nova onda de hotéis de luxo está o Gran Hotel Manzana Kempinski La Habana, de 246 quartos, que ocupa uma galeria comercial em estilo europeu de um quarteirão, restaurada recentemen­te. Do lado oposto do Parque Central fica o hotel Inglaterra, inaugurado em 1875, que teve Winston Churchill como um de seus hóspedes.

Ainda que o governo cubano seja proprietár­io de todos os hotéis, empresas da hotelaria mundial ajudam a administra­r muitos deles. O Manzana, que será inaugurado em junho, tem a gestão dividida entre a rede de hotéis de luxo suíça Kempinski e o Gaviota Group, de Cuba. O Inglaterra será administra­do pela Marriott e tem inauguraçã­o prevista para dezembro de 2019.

O Manzana tem um passado glorioso. Construída entre 1890 e 1918, a galeria de compras original abrigava lojas de roupas finas, dois teatros, restaurant­es, um rinque de patinação e um estande de tiro ao alvo. Depois da revolução, os andares foram ocupados pelo governo, abrigando repartiçõe­s públicas e escolas.

O hotel tem andares com pé direito de 5,40 metros e uma abundância de espelhos. O projeto enfatiza a história de Havana —caso do Constante Bar, decorado em azul turquesa e dourado e batizado em homenagem ao bartender que atendia o escritor Ernest Hemingway e criou o daiquiri.

Das janelas, frequentad­ores poderão ver o El Floridita, um dos bares que Hemingway costumava frequentar (e onde o drinque foi criado). Os quartos variam de 40 a 145 metros quadrados e terão diárias de entre US$ 370 e US$ 660 (R$ 1.144 a R$ 2.040).

Com cinco andares, o Manzana tem ainda terraço e piscina no topo. O piso superior tem uma área fitness de 900 metros quadrados com spa.

O objetivo, porém, será evitar que Cuba se transforme em uma nova Cancún, disse o arquiteto e urbanista Miguel Coyula, em referência à cidade mexicana que atrai universitá­rios dos Estados Unidos.

“Cuba é mais do que praia e sol”, disse. “A infraestru­tura está sob forte pressão. Milhões de turistas à procura de mojitos não ajudarão.” PAULO MIGLIACCI

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Fotos Lisette Poole/‘The New York Times’ Piscina no terraço que fica no topo do hotel Manzana, em Havana, com vista para o Capitólio; à dir., sala decorada no interior do empreendim­ento, que será inaugurado em junho
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