GOVERNO ENCURRALADO ‘Ótimo’, diz Temer sobre barrar apuração
Áudio revela que presidente tomou conhecimento de plano para destituir procurador que investigava Joesley Batista
Empresário citou em diálogo pagamento de R$ 50 mil; em nota, Temer disse não ter acreditado em relato
A conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu revela que o peemedebista tomou conhecimento de um plano para interferir em uma investigação sobre o grupo de Batista. Ao ouvir detalhes da estratégia, Temer respondeu: “Ótimo”.
Também não há informação de que o presidente tenha procurado a ProcuradoriaGeral da República ou outra autoridade de investigação para informar sobre o plano de interferência na operação policial relatado.
Batista disse ao presidente, no diálogo mantido no mês de março, que estava “tentando trocar o procurador” que estava “atrás” do empresário. A Folha apurou que se trata de uma referência a Anselmo Henrique, o coordenador da força-tarefa da Operação Greenfield.
Deflagrada em novembro passado, a Greenfield investiga supostos desvios em fundos de investimento em conexão com fundos de pensão de servidores públicos federais.
A operação tinha como foco empresa do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Na investigação, o procurador conseguiu diversas medidas judiciais contrárias aos interesses dos Batista.
O executivo disse a Michel Temer que estava “dando conta” de dois juízes, os quais não identificou nominalmente, e que conseguiu colocar um procurador “dentro da força-tarefa” da Greenfield.
O suposto informante é uma referência ao procurador Angelo Villela, preso nesta quinta (18) na Operação Patmos, e que entrou nos quadros da Greenfield em 22 de março. Para a PGR, Villela foi “infiltrado” na operação.
“Aqui eu dei conta de um lado, o juiz, dar uma segurada, do outro lado, o juiz substituto, que é um cara que fica .... [inaudível] Tô segurando os dois”, diz Joesley.
“Ótimo, ótimo”, respondeu o presidente.
“Consegui um procurador dentro da força-tarefa, que tá me dando informação. E lá que eu tô para dar conta de trocar o procurador que tá atrás de mim. Ô, se eu der conta, tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal. O lado ruim é que se vem um cara com raiva, com não sei o quê...”, diz Joesley.
Neste momento, Temer não se manifesta contra o plano e a conversa muda.
Em outro trecho, Batista faz referência a um pagamento de R$ 50 mil mensais para um “rapaz”, que lhe trazia “informação”. Os investigadores interpretam como uma menção ao procurador Villela. OUTRO LADO Em nota, Temer afirmou não ter acreditado na veracidade das declarações de Joesley. O peemedebista disse que, por ser investigado em inquérito, o executivo parecia contar vantagem e, por isso, não podia acreditar que ele teria cooptado um juiz e um procurador. GUSTAVO URIBE
DE SÃO PAULO
O presidente cometeu, em tese, o crime de prevaricação ao deixar de informar as autoridades policiais que Joesley Batista tinha relações com dois juízes e um procurador em Brasília com o objetivo de obstruir ações da Justiça.
Os juízes e o procurador atuavam na Operação Greenfield, que investiga fraudes em fundos de pensão.
O crime de prevaricação ocorre quando um funcionário público deixa de comunicar um crime que presenciou ou teve conhecimento.
“O agente estatal tem como uma de suas obrigações comunicar as autoridades competentes condutas mesmo que elas tenham só aparência de ilicitude”, diz Pedro Estevam Serrano, advogado e professor de direito administrativo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A pena para o crime varia de três meses a um ano de prisão e multa.
>> A DELAÇÃO DA JBS
Sob pressão diante de diversas investigações da Polícia Federal, em diferentes frentes, os donos e executivos do frigorífico JBS articularam um acordo de delação premiada na Justiça. Eles tinham ido ao Supremo para discutir detalhes na semana passada Na sexta (12), a PF havia deflagrado operação sobre supostas irregularidades na concessão de empréstimos do BNDES ao grupo. Também neste ano, tinha sido alvo na Operação Carne Fraca, sobre suborno a fiscais agropecuários, e Cui Bono? relacionada à concessão de créditos pela Caixa Econômica Federal Em 2016, o grupo J&F, que controla a JBS, foi investigado sob suspeita de pagar propina em torca de recursos do fundo de investimentos do FGTS. A casa de Joesley foi alvo de buscas A JBS teve forte expansão desde a década passada, inclusive fora do Brasil, e buscou proximidade com políticos. Acabou se tornando uma das principais doadoras de campanhas eleitorais no país