Gravação entre presidente e Joesley não é conclusiva
Ao ouvir providências tomadas por Joesley em relação a Cunha, Temer afirmou: ‘Tem que manter isso, viu?’
Áudio que veio a público possui trechos inaudíveis e não deixa clara a compra de silêncio de ex-deputado
Em conversa gravada, o presidente Michel Temer (PMDB) afirmou ao empresário Joesley Batista, ao ouvir as iniciativas que o dono do grupo JBS vinha tomando com relação ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ): “Tem que manter isso, viu?”.
O áudio que veio a público do diálogo não é conclusivo sobre a realização de pagamentos ao ex-deputado para comprar seu silêncio.
Após a fala de Temer, Joesley afirma: “Todo mês”, o que indica, segundo o empresário afirmou em seu acordo de delação premiada fechada com a PGR (Procuradoria Geral da República), acertos em dinheiro.
Cunha, que está preso no Paraná, tem indicado nos bastidores a ideia de fazer um acordo de delação com a Lava Jato.
O sigilo judicial sobre a gravação, que integra o acordo de delação premiada homologada com o empresário do grupo JBS, foi derrubado nesta quinta-feira (18) por ordem do ministro relator dos casos da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin. A conversa contém trechos inaudíveis, e não houve transcrição feita pelas autoridades da Justiça.
Minutos antes, o ministro havia autorizado a entrega de uma cópia da gravação à área jurídica do Planalto.
A gravação tem 38min57s. O trecho em que Joesley trata com Temer sobre o seu relacionamento com Cunha, que está preso por ordem do juiz federal Sergio Moro, dura cerca de três minutos.
Batista afirma que fez “o máximo” e “zerou tudo”, referindo-se a “pendências” que tinha com Cunha.
O ex-deputado teria “cobrado” algo que não fica claro na conversa.
Na interpretação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, expressa em documento enviado ao STF, Joesley estaria relatando a Temer pagamento de propina a Eduardo Cunha.
Joesley contou ao presidente que tinha um contato em comum tanto com Cunha quanto com seu aliado, o corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro: tratava-se do exministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima.
Porém Joesley disse que perdeu contato com Geddel depois do escândalo que levou à queda de ministro no final de 2016. Geddel passou a ser “investigado”, segundo Joesley, e por isso ele evitava entrar em contato com ele.
Temer concordou com o empresário, falou em “cuidado”, em um cenário “complicado” e ponderou que poderia aparentar uma “obstrução à Justiça”, conduta considerada crime pelo Código Penal.
Na sequência da conversa, Joesley resume o quadro: “O que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo, ok?”. Nesse momento, Temer concorda: “Tem que manter isso, viu?”. Joesley complementa: “Todo mês”. CUIDADOS Em outra gravação, Joesley diz ao deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDBPR) a sua versão sobre o que teria dito a Temer. “Eu disse pra Michel, desde quando Eduardo foi preso e ele [Funaro], quem está segurando as pontas sou eu”. Loures concordou: “Cuidando deles lá”. Para o deputado, essa ajuda “estabilizou” Cunha.
“Agora, o que eu comentei com Michel que o problema é o seguinte, ô, Rodrigo, a gente tem que pensar que essa situação não dá para ficar o resto da vida. Um mês vai, dois meses, três meses, seis meses, mas vai chegando uma hora que você vai indo, você vai indo...”.