GOVERNO ENCURRALADO Para analistas, JBS tem fôlego financeiro para atravessar crise
Dívida é elevada, mas delação não deve ter impacto sobre as vendas da gigante de alimentos
Maior parte da receita da empresa vem do exterior, onde o efeito do escândalo político tende a ser reduzido
Analistas e executivos de bancos com conhecimento dos números da JBS veem como baixo o risco de a companhia deixar de honrar pagamentos a seus credores no curto prazo. A empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista tinha, ao fim de março, R$ 17,9 bilhões em dívidas a vencer em 12 meses e 60% desse montante em caixa.
Essa relação entre o que a empresa deve na praça no curto prazo e o dinheiro que tem disponível já foi mais folgada. Ao final de 2011, a JBS tinha 100% de sua dívida imediata coberta pelo caixa.
Apesar disso, a avaliação do mercado é que os números apresentados pela empresa dão a ela relativo conforto para enfrentar a crise de imagem em seus negócios. Tal percepção deriva do perfil da dívida: boa parte está garantida pela operação, uma modalidade de crédito conhecida como “trading finance”.
Analistas projetam ainda que, ao contrário do que ocorreu na Carne Fraca, a delação dos donos da companhia trará prejuízos limitados às vendas de produtos da JBS. Na operação de março, a PF lançou dúvidas sobre condições sanitárias das fábricas e a qualidade da mercadoria, o que assustou consumidores.
Outro fator que deve atenuar o impacto da delação nos resultados da empresa é o fato de o escândalo ter menos apelo para o público estrangeiro, de onde vem a maior parte das receitas da JBS.
Conhecida no Brasil pelas marcas Friboi e Seara, a empresa expandiu-se de forma agressiva no exterior com apoio do BNDES e hoje é mais americana do que brasileira.
“O consumidor dos EUA não sabe quem são os irmãos Batista e não deixará de comprar os produtos da empresa por causa de um escândalo no Brasil”, diz Johnny da Silva, analista da Fitch Ratings.
A JBS conta com esse descolamento entre a imagem do conglomerado e de suas marcas no exterior para blindar a operação e evitar queda nas receitas. Nos EUA é dona, por exemplo, da Pilgrim’s Pride, da Swift e agora da Plumrose.
Manter o faturamento em alta é especialmente importante depois de a oferta de ações planejada pela JBS em Nova York ter sido adiada. Os recursos levantados ajudariam a baixar o endividamento.
Nos últimos anos, a JBS tem conseguido manter no longo prazo o vencimento de cerca de 70% de sua dívida —no total, deve hoje R$ 58,5 bilhões. Em fevereiro deste ano, refinanciou empréstimos de R$ 9 bilhões, aumentando o prazo de pagamento.
Uma queda nas vendas —e consequente redução na geração de caixa— poderia deixar bancos receosos de liberar dinheiro novo ou renegociar empréstimos. Ao menos por ora, não há sinais de que isso ocorrerá.