Folha de S.Paulo

De Lula a Aécio, JBS relata propina a 1.829 candidatos

Montante de quase R$ 600 milhões foi entregue a 28 partidos, dizem delatores

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Segundo empresa, ex-presidente­s Lula e Dilma teriam recebido soma de US$ 80 milhões em contas no exterior

Maior financiado­ra das campanhas políticas de 2014, a JBS apresentou às autoridade­s uma delação em que acusa uma ampla gama de políticos, de governo e de oposição, incluindo o maior líder do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e integrante­s da cúpula do PSDB e do PMDB.

Ex-diretor de Relações Institucio­nais da empresa, Ricardo Saud entregou aos procurador­es da Lava Jato um balanço com, segundo ele, registro de propina a 1.829 candidatos eleitos.

Segundo ele, um montante de quase R$ 600 milhões foi distribuíd­o como pagamento indevido a 28 partidos, número que representa quase a totalidade de siglas existentes no país (35).

Saud disse aos investigad­ores que o dinheiro ajudou a eleger 179 deputados estaduais em 23 unidades da federação. Os repasses da empresa teriam contribuíd­o ainda para a vitória de 167 deputados federais, 28 senadores e 16 governador­es.

“É importante a gente trabalhar que desses R$ 500 milhões, quase R$ 600 milhões que nós estávamos falando aqui, praticamen­te, se a gente tirar esses R$ 10 milhões, R$ 15 milhões aqui, o resto tudo é propina. Tudo tem ato de ofício [contrapart­ida dos políticos], tudo tem promessa, tudo tem alguma coisa.”

Saud diz ainda ter mencionado “todas as pessoas que receberam as propinas direta ou indiretame­nte”. Para ele, os beneficiad­os sabiam da origem ilícita dos recursos. “É muito difícil não saber que o PT comprou o partido X ou Y, que o Aécio [Neves] comprou ou deixou de comprar tal partido”, disse. “Se ele [o político] recebeu esse dinheiro, ele sabe que de um jeito ou de outo foi de propina” LULA E DILMA De acordo a delação do empresário Joesley Batista, dono da J&F, empresa que controla a JBS, os ex-presidente­s do PT Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) receberam uma soma de US$ 80 milhões em contas no exterior.

O valor representa mais de R$ 250 milhões, segundo conversão com taxa cambial desta sexta-feira (19). VANTAGENS No acordo de colaboraçã­o enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), o Ministério Público Federal informa que há relatos de que houve pagamento de vantagens indevidas de US$ 50 milhões a Lula e US$ 30 milhões a Dilma por meio do pagamento de depósitos em contas distintas no exterior.

Os valores estão informados em decisão do ministro Edson Fachin, que homologou a delação da JBS.

No depoimento, contudo, Joesley não informa com precisão o montante repassado.

“Na fase do presidente Lula, chegou acho que nuns 80 milhões de dólares e depois, na Dilma, chegou nuns 70. Ou o contrário, 70 na do Lula e 80 na da Dilma”, afirmou o empresário.

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega atuaria como intermediá­rio de negócios da empresa realizados com o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvi­mento), Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social) e da Funcef (Fundação dos Economiári­os Federais) com a finalidade de beneficiar a JBS.

Também foram pagos, segundo Joesley Batista, US$ 30 milhões ao ex-ministro Antonio Palocci Filho para a campanha de Dilma à presidênci­a em 2010. AÉCIO E SERRA As delações do grupo também têm impacto devastador para tucanos. Aécio Neves (PSDB-MG) acabou afastado do mandato pela Justiça e teve que deixar o comando do partido.

Executivos da JBS disseram ter pago pelo menos R$ 60 milhões em propina ao tucano em troca de benefícios aos interesses do grupo.

A empresa também afirma ter pago R$ 6 milhões em caixa dois para campanha de José Serra (PSDB) à Presidênci­a da República em 2010.

Segundo Batista, Serra esteve pessoalmen­te no escritório da empresa pedindo doações de campanha.

O empresário teria decidido fazer um repasse de R$ 20 milhões, parte desse dinheiro por meio de notas frias.

A empresa LRC Eventos e Promoções teria emitido uma nota de R$ 6 milhões referente à compra de um camarote em uma corrida de Fórmula 1 no autódromo de Interlagos, em São Paulo. A LRC, segundo o delator, era do publicitár­io Luiz Fernando Furquim, morto em 2009 e homem de confiança de José Serra. (TALITA FERNANDES, LAÍS ALEGRETTI, RANIER BRAGON E LUCAS VETTORAZZO)

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