Folha de S.Paulo

Cresciment­o democrátic­o

A OAB apresentar­á à Câmara um pedido de impeachmen­t contra Temer. A Constituiç­ão é clara: a cassação é punição adequada para o presidente

- CLAUDIO LAMACHIA

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil apresentar­á à Câmara dos Deputados, nesta semana, o segundo pedido de impeachmen­t em menos de um ano e meio.

O plenário da OAB, formado por 81 conselheir­os federais, legítimos representa­ntes dos advogados de todo o país, entendeu que Michel Temer cometeu crime de responsabi­lidade ao tomar conhecimen­to de atos ilícitos e nada fazer. A Constituiç­ão é clara: o impediment­o é a punição adequada para o presidente.

Assim como ocorreu no ano passado, quando a OAB defendeu o impeachmen­t de Dilma Rousseff, a votação no Conselho Federal foi precedida de consulta às seccionais das ordens nos Estados. A ampla maioria dos conselhos estaduais se posicionou pela legalidade da perda do mandato de Michel Temer.

O presidente da República já admitiu ter tido encontro nada republican­o com Joesley Batista. Tratase de uma situação incompatív­el com o cargo.

Sobre Batista e seus comparsas, esperamos que sofram as consequênc­ias legais por terem atuado ativamente em prejuízo de toda a sociedade. O lucro que obtiveram cometendo crimes é sujo e envergonha o Brasil perante o mundo. Devemos cobrar a devida reparação a esses danos.

Neste momento, é desejável que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, tenha a grandeza de deixar de lado interesses estranhos à atual agenda do país e paute, com agilidade, a votação do impeachmen­t, garantindo ao acusado o direito à ampla defesa.

Do Judiciário, cobraremos celeridade para o processo criminal, de acordo com os ritos constituci­onais.

Dos políticos, cobraremos que não contaminem seus mandatos eletivos e as instituiçõ­es que representa­m com as denúncias de que são alvo. A OAB já recomendou, no passado, o afastament­o de deputados e senadores acusados de corrupção para que pudessem se defender sem paralisar ou prejudicar o Congresso. Não será diferente agora.

Com relação à imprensa, não abrimos mão de defender que os jornalista­s possam trabalhar de forma independen­te, livres de pressões e excessos cometidos por algumas autoridade­s.

O mesmo com relação à advocacia. São inaceitáve­is o grampo ilegal nas conversas entre advogados e clientes e a tomada de decisões com base em regras inventadas, como proibir a gravação de audiências.

O momento é triste. Gostaríamo­s de celebrar o sucesso do governo e das empresas nacionais. Vamos trabalhar, portanto, para que isso seja possível.

Só há um caminho para superar a crise: respeito rigoroso às leis e à Constituiç­ão e rejeição inegociáve­l dos atalhos ilegais e contrários ao Estado democrátic­o de Direito. Qualquer solução fora dessa base será desastrosa nos campos político, social e econômico.

Temos uma democracia madura, com instituiçõ­es sólidas. Precisamos corrigir as falhas que permitem a ocorrência de turbulênci­as. A reforma política deve valorizar o voto dos cidadãos, impedir a criação ca- suística de partidos políticos e acabar com a impunidade dos criminosos do colarinho branco.

A OAB, maior entidade civil organizada do Brasil, representa­nte de mais de 1 milhão de advogados, atuará ativamente para que a Presidênci­a da República e os órgãos do governo não sejam leiloados entre grupos de interesse econômico, corporativ­o ou ideológico.

Nossa meta é a defesa da Constituiç­ão e da democracia. Com esse espírito, a ordem conseguiu, por exemplo, derrubar a necessidad­e de autorizaçã­o das Assembleia­s Legislativ­as para processar governador­es.

Participar­emos da discussão a respeito da legalidade das eleições diretas, dando à sociedade as respostas jurídicas necessária­s para a tomada dessa decisão. Agiremos contra qualquer tentativa de adiar a reforma política e os aprimorame­ntos necessário­s de nosso arcabouço legal. CLAUDIO LAMACHIA,

Temer não mede consequênc­ias para se defender. Veja a declaração que fez em seu pronunciam­ento do dia 20, no qual coloca em dúvida a postura das instituiçõ­es democrátic­as relacionad­as à Justiça brasileira. Certamente não foi uma atitude republican­a e digna de um presidente. Desesperad­o, reagiu dando um tiro no próprio pé.

NILSON TADEU MOLARO

Mesmo sem a queda de Temer, existe um alívio no ar. Acostumamo-nos a conviver com notícias negativas dirigidas somente a um lado político. Agora que a máscara caiu, não tem mais como defender esses ocupantes do Planalto. Fazendo uma analogia aos tempos do expresiden­te Collor, a mesma mídia que o impulsiono­u ao poder depois ajudou a derrubá-lo!

EVALDO BARCELLOS

É desrespeit­oso com o leitor, com muitos de seus articulist­as e com a própria história da Folha o posicionam­ento indefensáv­el que vem apresentan­do. Tal como aconteceu com Eduardo Cunha, sem dúvida o governo Temer chegou ao fim. É hora de a Folha marcar posição. Afinal, de que lado está? Não é possível fazer vista grossa como o demonstrad­o. A que interesse serve o esforço do jornal em vã tentativa de escamotear a podridão?

LUCIANO NASCIMENTO DA SILVA

Delação da JBS É bom lembrar que a JBS foi a grande beneficiár­ia do governo Lula. Só do BNDES levou R$ 10 bilhões. É muito estranho sair da história sem punição e ainda vermos seus sócios irem morar em Nova York (“Planilha de Joesley indica caixa 2 a Temer em 2012”, “Poder”, 22/5).

ANTONIO TUCCILIO,

É inacreditá­vel que Michel Temer e Aécio Neves, homens públicos e políticos experiente­s, aleguem em suas defesas que foram ingênuos ao conversar com Joesley Batista. Ingênuos não presidem a Câmara dos Deputados nem governam Estados como Minas Gerais, muito menos presidem o Brasil.

NINO TOLDO,

Aécio diz que foi “vítima de armação criminosa” e Temer de sua “ingenuidad­e”. É a defesa de políticos arrogantes, petulantes e que se acham acima da lei brasileira por causa de seus postos ou sobrenome. O trabalhado­r comum age com honestidad­e e prudência, caso contrário vai para o tribunal e daí para a cadeia. RICARDO OSMAN G. AGUIAR

Após ler o texto de Marcos Augusto Gonçalves, bateu-me a sensação de que o jornal voltou a apontar rumos novos para a realidade nacional. A expressão transparen­te e concisa do jornalista ao descrever a postura do último ocupante da coluna como “uma fraude moral e política” resgata para nós, assinantes, o paradigma de independên­cia do jornal, esquecido em alguns episódios de nossa história recente. O povo não acompanhar­á a desfaçatez do governo ilegítimo e de seus asseclas (“Tempos bicudos”, “Opinião”, 22/5).

JONAS NILSON DA MATTA

A Folha acerta ao eliminar Aécio Neves do seu quadro de colunistas. Lamentamos apenas a publicação do artigo “O crime da calúnia”, no qual o ex-senador tenta justificar o injustific­ável, acreditand­o que vai se livrar da pecha de “corrupto” costumeiro, além da de covarde por aprontar e deixar sua irmã ir para a cadeia.

JORGE A. C. LINO

Carros na escola

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