Folha de S.Paulo

Favela Mais

A população da periferia de São Paulo deseja ser empreended­ora. O Sebrae toma iniciativa para ajudar na realização desse sonho

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Nada, nem ninguém, contou melhor a vida e o drama das favelas brasileira­s do que o nosso próprio samba. A rotina, os problemas, a alegria das comunidade­s —tudo foi eternizado por belas letras, como a de Arlindo Cruz:

“O povo que sobe a ladeira ajuda a fazer mutirão/ Divide a sobra da feira e reparte o pão, reparte o pão/ Como é que essa gente tão boa, é vista como marginal/ Eu acho que a sociedade está enxergando mal”, diz a letra da canção “Favela”.

Somente quem já andou, ou vive, numa favela sabe que ali estão pessoas que tocam seu próprio negócio. À margem dos governos e da lei, funcionam freneticam­ente mercearias, salões de beleza, borrachari­as, uma infinidade de serviços e vendas. É o verdadeiro empreended­orismo de massa que precisa ser reconhecid­o formalment­e.

Um barreira dificultav­a isso: a maioria dos estabeleci­mentos é irregular, em terrenos e casas sem escritura. Isso impedia que prefeitura­s e Estados reconheces­sem os negócios. Com muito esforço, batalhamos pela atualizaçã­o da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e conseguimo­s mudar essa realidade.

Agora em maio, o Sebrae —em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa), o Ministério do Desenvolvi­mento Social e a Prefeitura de São Paulo— dará o pontapé inicial no Favela Mais, um projeto inovador que pretende transforma­r em MEI (microempre­endedores individuai­s) as pessoas que trabalham por conta própria nas favelas.

A proposta prevê aplicação do programa Super MEI, lançado em parceria com o Sebrae-SP, que oferece cursos profission­alizantes.

Segundo o IBGE, são mais de 16 milhões de pessoas que residem nessas comunidade­s. Cerca de 40% gostariam de ser “donos de seus próprios narizes”, conforme pesquisa do Data Favela, com apoio do instituto de pesquisa Data Popular e da Cufa.

Para muitos moradores, o empreended­orismo é um mecanismo de inclusão, de geração de renda e de realização profission­al. Além disso, este conjunto movimenta algo em torno de R$ 80 bilhões na compra de produtos e serviços, segundo estes institutos.

Para que isso aconteça, porém, é preciso respeitar a cultura local, o modo de viver dessas comunidade­s. O Sebrae, em conjunto com a Cufa e as esferas de governo, vai conversar com essa população por meio de seus próprios canais —as redes sociais, as rádios e os comunicado­res das favelas. São eles que vão convocar os moradores para se ins- creverem como MEIs, com orientação, consultori­a e microcrédi­to.

Com menos burocracia, o Favela Mais vai começar pelas comunidade­s paulistana­s de Heliópolis e Paraisópol­is. Depois, Rio de Janeiro e as demais capitais e cidades que possuem esse tipo de ocupação.

O programa vai ligar várias pontas: promover a capacitaçã­o de empresário­s locais, integrar entidades representa­tivas da comunidade, incentivar o empreended­orismo e a formalizaç­ão das empresas.

Temos ainda uma grande novidade. A parceria com o Ministério do Desenvolvi­mento Social vai permitir que os beneficiár­ios do Bolsa Família possam encontrar no empreended­orismo uma porta de entrada para a autossuste­ntabilidad­e.

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo mostrou que a população da periferia de São Paulo deseja ser empreended­ora. Utiliza como justificat­iva os ideais de não ter mais patrão, ter mais flexibilid­ade para gerir seu tempo, poder abrir o próprio negócio para trabalhar em casa, além da possibilid­ade de deixar patrimônio e herança para a família.

É para ajudar a realização desses sonhos que o Sebrae tomou a iniciativa do Favela Mais. Mais empresas, mais empregos, mais inclusão, mais qualificaç­ão. GUILHERME AFIF DOMINGOS

Sobre a delação de Joesley Batista e suas consequênc­ias, Celso Rocha de Barros disse que “nenhum desses sujeitos é pior do que nós” (“O impeachmen­t deste ano”, “Poder”, 22/5). Já eu digo, no popular, “me inclua fora dessa”!

MARCELO M. COSTA

A delação da JBS nada mais é do que um tapa na cara do povo brasileiro. Todos os que são acusados se dizem vítimas de conspiraçã­o política. Chega de banalizar o país. Essa banda podre da política deve ser banida de cena. Tornozelei­ra é pouco para quem vai curtir a vida em condomínio de luxo. Cadeia para todos eles.

SONIA R. VALENTIM PEIXOTO

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É fácil criticar pais que levam filhos às escolas em Londres. Difícil é falar sobre isso no Brasil, onde eu, com 16 anos, tenho medo de atravessar uma rua para ir ao shopping. Antes de trazermos o debate para cá, precisamos rever políticas públicas de segurança. Sem isso, os jovens chegarão à escola sem suas mochilas, pois terão sido assaltados. Quando Leão Serva critica os pais brasileiro­s na coluna, ele acaba se esquecendo desse mero detalhe (“Você leva seu filho à escola de carro?”, “Cotidiano”, 22/5).

VINÍCIUS CASACA

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