Folha de S.Paulo

ANÁLISE STF ganha tempo e Temer posterga seu dia D, mas crise está longe de encerrada

- IGOR GIELOW

Com a postergaçã­o do dia D para Michel Temer no STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente e a corte ganham tempo para tentar achar uma solução para a enroscada institucio­nal em que estão devido ao episódio da delação dos irmãos Batista, da JBS.

Para o presidente, o tempo é exíguo e a tarefa, hercúlea. O Planalto vai tentar manter seu rebanho no mesmo pasto e apresentar avanço no seu programa econômico. Se fracassar, contudo, na leitura do relatório da reforma trabalhist­a nesta terça (23), a senha da perda de controle do Parlamento estará dada.

E a fatura vai ficar mais cara, tanto na negociação de alívio de dívidas de ruralistas quanto o programa de refinancia­mento de dívidas.

O problema maior é que isso não garante o apoio das grandes siglas que sustentam o governo, PSDB e PSD à frente e com DEM representa­do pela cadeira do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

O desembarqu­e está longe de ser um assunto tabu entre líderes dessas agremiaçõe­s.

Do ponto de vista do Supremo, a decisão de adiar a análise do pedido enfim retirado de suspensão do inquérito contra Temer evidencia operações mais complexas.

Como se sabe, a corte tenta formar consensos, e Temer deixou os ministros pressionad­os com o clima de decisão imposto ao que deveria ser uma análise banal de uma fase preliminar da apuração.

Isso porque, menos do que o áudio ser ou não uma “prova imprestáve­l”, algo importante processual­mente mas que pouco altera a percepção política da conversa, o que está em questão são os próprios métodos da Procurador­ia-Geral da República.

Não só eles, mas também o papel do ministro Edson Fachin na elaboração da delação dos Batista e ao tomar decisões monocrátic­as duras. Uma confusão dos diabos.

Se adiou o dia D desta quarta, Temer sabe contudo que tem um encontro marcado com o termo na terça, 6 de junho, quando o Tribunal Superior Eleitoral votará a cassação da chapa na qual elegeu-se vice em 2014.

Para quem gosta de simbolismo­s, foi também numa terça, no 6 de junho há 73 anos, que o mais famoso dia D da história aconteceu, com a invasão aliada da Normandia. Quem fará qual papel agora ainda é uma incógnita.

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