Desempenho de gestora em dia de caos gera questionamentos
CVM abre processo para investigar fundos da JGP que lucraram
Em meio às dúvidas sobre o futuro do governo Michel Temer, que causam tumulto na praça desde que o presidente foi atingido pela delação do empresário Joesley Batista, os investidores passaram a debater outra questão: o desempenho da gestora carioca de investimentos JGP.
Na quinta-feira (18), quando a Bolsa afundou 8,8% e o dólar disparou 8%, fundos da gestora tiveram desempenho excepcional. As cotas de um deles, o JGP Max, subiram 1,68% e outro, o JGP Strategy, registrou ganho de 3,32%.
Levantamento da empresa Economática indica que, num grupo formado por 230 fundos multimercados livres, com características semelhantes aos da JGP, cerca de 50 tiveram ganhos nesse dia e a maioria perdeu. Alguns tiveram perda de mais de 10%.
Esses fundos, que aplicam seus recursos em ações, títulos públicos, papéis de empresas e outros ativos financeiros, são agressivos porque podem mudar sua estratégia de acordo com a avaliação dos gestores a qualquer hora.
Mas o sucesso dos fundos da JGP nesse dia destoou tanto que analistas e gestores rivais passaram a desconfiar que a empresa tenha obtido informação privilegiada sobre a delação de Joesley, a tempo de lucrar no mercado.
Em entrevista à Folha, Maurício Werneck, sócio da JGP, negou ter tido acesso a informação privilegiada e afirmou que a gestora mudou de estratégia na semana passa- da por causa de uma avaliação pessimista das chances de aprovação das reformas no Congresso e por causa de turbulências no cenário externo.
Segundo ele, os fundos da JGP, que apostavam na valorização do real em relação ao dólar até segunda-feira (15), reduziram essa posição na terça e a inverteram na quarta, o que permitiu que ganhasse com a alta do dólar.
“O problema foi que fomos um dos únicos fundos que ganharam dinheiro”, disse Werneck. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) informou que investigará o caso.
Outros gestores rejeitaram a hipótese de informação privilegiada, e um deles afirmou à Folha que o mercado tem preocupações mais urgentes. (ÉRICA FRAGA, DANIELLE BRANT, FLAVIA LIMA E MARIANA CARNEIRO)