Folha de S.Paulo

Trump se esquiva de promessas em Israel e volta a criticar Irã

Presidente dos EUA evita abordar transferên­cia de embaixada a Jerusalém e assentamen­tos

- DANIELA KRESCH

Discurso vago frustra governo israelense; ao lado de Netanyahu, ele diz que Irã ‘jamais pode ter armas nucleares’ EM TEL AVIV

Uma visita repleta de simbolismo, mas despojada de anúncios concretos. Assim foi esta segunda-feira (22), o primeiro dia em Israel do presidente dos EUA, Donald Trump, depois de ter iniciado sua primeira viagem internacio­nal no cargo pela Arábia Saudita, no sábado (20).

Para frustração do governo do partido conservado­r Likud, Trump se esquivou das principais promessas de campanha e deixou no ar questões que pareciam certas para Israel, como transferên­cia da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém ou o sinal verde para que os israelense­s anexassem assentamen­tos judaicos no território palestino da Cisjordâni­a.

As falas foram vagas, apesar de demonstrar­em profunda identifica­ção do presidente republican­o com Israel.

“Reafirmamo­s o laço inquebrant­ável de amizade entre Israel e os Estados Unidos, uma amizade construída com base no nosso amor e liberdade compartilh­ados. Somos mais do que amigos. Somos grandes aliados”, disse Trump, após encontro com o premiê Binyamin Netanyahu.

Assim que desembarco­u em Tel Aviv, Trump passou a receber insinuaçõe­s de que o governo israelense esperava ouvir algo mais concreto. O ministro da Educação, Naftali Bennet, do partido de extrema-direita Casa Judaica, pediu a ele que cumprisse a promessa de transferir a embaixada para Jerusalém. Ficou sem resposta. CIDADE VELHA Para alguns, no entanto, não foi preciso falar nada.

A decisão de visitar a Cidade Velha teria sido uma afirmação tácita de que ele reconhece Jerusalém como capital de Israel. Trump se tornou o primeiro líder americano a visitar o local.

Ele esteve brevemente na Igreja do Santo Sepulcro, onde, segundo a tradição católica, Jesus ressuscito­u; e o Muro das Lamentaçõe­s, único resquício do Templo Sagrado, ponto mais venerado para os judeus.

Nenhum líder americano se aventurara, antes, pelas ruelas estreitas e densas da cidade, palco de atentados e passível de ataques. E nenhum se expusera a um possível mal-estar diplomátic­o com os palestinos e o mundo árabe-muçulmano em geral.

A Cidade Velha não é considerad­a, pelas Nações Unidas, parte de Israel. Essa área, bem como toda Jerusalém, deveria ser internacio­nalizada pelo plano de Partilha de Palestina, de 1947.

No ano seguinte, no entanto, depois de uma guerra, a cidade foi dividida entre israelense­s e jordaniano­s.

Em 1967, Israel tomou o controle de toda a cidade, que considera sua capital. Hoje, o consenso na comunidade internacio­nal é que só a parte ocidental seria parte de Israel. A oriental, onde fica o muro, deveria ser palestina.

Trump também repetiu que espera costurar novas negociaçõe­s de paz entre israelense­s e palestinos, algo em que Netanyahu não parece interessad­o, por temor de que seja obrigado a fazer concessões e enfrentar a fúria da ala

Em meio a discursos comportado­s, Trump cometeu uma gafe que quase roubou a cena. Ele disse que não pronunciou a palavra “Israel” ao chanceler russo Sergei Lavrov durante reunião em que revelou informaçõe­s secretas que teriam saído dos serviços de espionagem israelense­s, segundo a mídia dos EUA.

“Só para que você saiba, nunca mencionei a palavra e o nome ‘Israel’”, disse Trump em resposta a um jornalista. “Nunca mencionei isso durante a conversa. Estão todos dizendo que sim, então vocês têm outra história errada.”

O lapso deixou claro que a tal informação secreta realmente saiu do país, o que os israelense­s não tinham a intenção de revelar.

 ?? Evan Vucci/Associated Press ?? O presidente dos EUA, Donald Trump, visita o Muro das Lamentaçõe­s, em Jerusalém; ele disse querer relançar processo de paz, mas não fez propostas
Evan Vucci/Associated Press O presidente dos EUA, Donald Trump, visita o Muro das Lamentaçõe­s, em Jerusalém; ele disse querer relançar processo de paz, mas não fez propostas
 ?? Mohamad Torokman/Reuters ?? » PALESTINA Manifestan­te segura cartaz anti-Trump em Ramallah, na Cisjordâni­a, um dia antes de o presidente se reunir com o dirigente palestino Mahmoud Abbas
Mohamad Torokman/Reuters » PALESTINA Manifestan­te segura cartaz anti-Trump em Ramallah, na Cisjordâni­a, um dia antes de o presidente se reunir com o dirigente palestino Mahmoud Abbas

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