Folha de S.Paulo

Argentina investiga executivos da Odebrecht

Procurador pede a juiz aval para ouvir telefonema­s de executivos da construtor­a em esquema de corrupção

- SYLVIA COLOMBO

Justiça do Brasil deve liberar, em junho, nomes dos envolvidos nas operações ilegais da empresa fora do país

O procurador Federico Delgado pediu autorizaçã­o aos juízes responsáve­is pelo processo da Odebrecht na Argentina para investigar as ligações telefônica­s dos executivos da empresa no país entre os anos de 2006 e 2015.

Delgado pretende cruzar essas informaçõe­s com as obtidas por meio de depoimento­s concedidos via teleconfer­ência por delatores brasileiro­s, como o doleiro Leonardo Meirelles, que acusa o atual chefe de inteligênc­ia do governo de Mauricio Macri, Gustavo Arribas, de ter recebido mais de US$ 800 mil (R$ 2,6 milhões) em propinas.

Segundo o Departamen­to de Justiça dos EUA, a construtor­a brasileira teria pagado US$ 35 milhões (R$ 114 milhões) a funcionári­os do governo argentino durante o período sob investigaç­ão.

No próximo dia 1º de junho, a lista de nomes dos envolvidos no escândalo da Odebrecht que sejam de fora do Brasil será disponibil­izada pela Justiça brasileira aos países envolvidos.

Até lá, a empresa vem tentando, na Argentina, fazer um acordo de colaboraçã­o no qual, por meio de informaçõe­s e de possíveis multas, possa obter permissão para continuar atuando no país. A Justiça argentina ainda avalia essa possibilid­ade, mas há entraves na legislação do país para tais acordos.

Entre outras obras, vêm sendo investigad­as a da linha de trem Sarmiento e a construção de uma estação de tratamento de água no rio Tigre.

Pelo período que abrange a investigaç­ão, os procurador­es estimam que a maioria das propinas tenha sido paga a funcionári­os da gestão Cristina Kirchner (2007-2015).

Entre os nomes mencionado­s como suspeitos no momento estão o ex-ministro do Planejamen­to Julio De Vido e o ex-secretário de Transporte­s Ricardo Jaime.

Porém, em algumas delas, como a do trem Sarmiento, estariam envolvidas empresas que fazem ou faziam parte do grupo Macri, muito ligado à construção —como a Iecsa, que era dirigida pelo primo do atual presidente.

No caso da estação de tratamento de água, as irregulari­dades estão relacionad­as a aditivos à obra original, que teriam sido concedidos à Odebrecht sem licitação, sob a alegação de que faziam parte da mesma obra.

A Procurador­ia considera essas concessões sem licitação como ilegais.

Em seu pedido ao juiz Sebastián Casanello, Delgado pede que outras instâncias do poder Judiciário sejam envolvidas. “A magnitude do trabalho excede os limites do esforço individual. É preciso um compromiss­o mais intenso por parte do Estado”, declarou Delgado, no texto entregue ao juiz.

Outro ator do escândalo Odebrecht na mira da Justiça argentina é o doleiro Alberto Youssef, a quem a Procurador­ia espera ouvir nas próximas semanas.

Segundo o “La Nación”, um depoimento de Youssef seria muito revelador porque este teria usado uma empresa de fachada argentina, a Lobogen, para simular importação de medicament­os da China. Desse modo, teria tido autorizaçã­o para fazer transferên­cias a funcionári­os do governo argentino.

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