Folha de S.Paulo

Acolhidos da cracolândi­a dormem no chão em espaço da gestão Doria

Complexo escolhido para receber dependente­s após operação reunia dezenas à tarde sem colchão

- ARTUR RODRIGUES MARLENE BERGAMO

Posto médico no local reduziu atendiment­o há 2 meses; prefeitura diz que evitou vazar ação, mas que colocou camas

No chão frio e duro, sem colchão, ao menos duas dezenas de homens dormem enfileirad­os no começo da tarde —e tentam se proteger com cobertores acinzentad­os.

A cena não é muito diferente da que se vê em calçadas do centro paulistano. A diferença é que eles estão dentro de um equipament­o municipal, escolhido pela gestão João Doria (PSDB) para abrigar usuários de drogas retirados da cracolândi­a no domingo (21).

Por lá, até dois meses atrás, havia uma AMA (Assistênci­a Médica Ambulatori­al) que funcionava 24 horas. Agora, ela só abre meio período — apesar da recente demanda.

Um dia após uma megaoperaç­ão no principal ponto de concentraç­ão de drogas da cracolândi­a, centenas de dependente­s químicos se espalharam pelo centro e consumiram crack nas imediações.

Outros foram levados com vans ao complexo Prates, no Bom Retiro, para serem acolhidos pela prefeitura. Foi no centro de convivênci­a desse espaço que a Folha presenciou nesta segunda-feira (22) a situação descrita acima.

Frequentad­ores do local disseram faltar estrutura para atender mais pessoas —por já estar lotado. Eles pediram para não ter os nomes revelados com medo de represália­s.

Um homem afirmou haver 55 beliches improvisad­os na quadra e temer que novos moradores pudessem ficar em lugar descoberto até de noite. Ele disse que houve consumo de crack nesta segunda dentro do espaço.

Funcionári­os do complexo Prates afirmaram que foram pegos de surpresa e, por isso, não estavam preparados.

A gestão Doria diz que, para evitar vazamentos da operação policial na cracolândi­a, suas equipes de atendiment­o não foram avisadas antes.

Afirma, porém, que montou camas de campanha —e que as pessoas que dormiam no chão à tarde tinham essa estrutura à disposição. Frequentad­ores ouvidos pela Folha negam. O acesso ao lugar onde ficariam as camas estava fechado à tarde, quando a reportagem esteve no local.

A prefeitura diz ainda que pretende retomar a unidade médica 24 horas no local.

A presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas e Álcool, Nathália Oliveira, criticou a falta de preparo para receber dependente­s retirados da cracolândi­a.

“Já não havia vagas em diversos albergues, e a estrutura do Prates é emergencia­l. Estão usando até a quadra com camas improvisad­as”, disse.

O complexo foi inaugurado na gestão de Gilberto Kassab (PSD), em 2012. Na ocasião, a previsão era que a unidade médica do local fizesse 5.000 atendiment­os mensais.

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