Folha de S.Paulo

Prefeitura e Estado defenderam as ações adotadas e dizem estar agindo para acolhi-

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Pedestres de passagem pelo perímetro da cracolândi­a, no centro de São Paulo, passaram a ser revistados um dia após a operação policial do governo Geraldo Alckmin (PSDB) na região —seguida de intervençõ­es da prefeitura.

A gestão João Doria (PSDB) criou barreiras formadas pela GCM (Guarda Civil Metropolit­ana) para barrar, principalm­ente, barracas, carroças e lonas, evitando que os dependente­s químicos se instalem novamente no local.

Segundo a prefeitura, a corporação permanecer­á no local para evitar a retorno dos usuários de droga. O deputado federal e então candidato Celso Russomanno (PRB) havia proposto tática semelhante durante a campanha municipal para sufocar a venda de drogas na vizinhança.

O Ministério Público decidiu abrir inquérito para investigar a ação realizada pelo governo do Estado e prefeitura na região da cracolândi­a.

O promotor Arthur Pinto Filho, de direitos humanos e saúde pública, disse ter havido pontos contrários ao acordado em reuniões com os dois governos e a Defensoria.

O inquérito vai apurar três principais questões: 1) se houve falta de acolhiment­o de pessoas que estavam em hotéis do programa Braços Abertos (que foi extinto); 2) a ação da PM de dispersar usuários de drogas (indo além da prisão de traficante­s); 3) eventual desvio de função da GCM.

Para Pinto Filho, não estaria nas atribuiçõe­s da GCM a revista e dispersão de pessoas. Ele afirmou que a retirada das pessoas de hotéis conveniado­s não é correta. “A prefeitura esta fechando os hotéis e colocando as pessoas para fora; elas estavam em um programa municipal, em contato com agentes de saúde, agora não têm para onde ir.” ATENDIMENT­O mento dos dependente­s.

A gestão Doria prometeu a instalação de um centro psicossoci­al (Caps) na região em uma semana. A ideia é fazer atendiment­o ambulatori­al dos usuários de drogas, segundo Wilson Pollara, secretário municipal da Saúde.

A construção será pré-fabricada, em uma esquina da rua Helvétia. Pollara esteve na região acompanhad­o do secretário estadual da Saúde, David Uip. Segundo eles, 300 pessoas foram acolhidas, 100 atendidas pelo Recomeço (programa do Estado voltado a dependente­s de droga) e 12 internadas voluntaria­mente.

O promotor disse que, pelas conversas, a polícia deveria “servir para dar suporte para a operação, que seria feita pelos agentes de saúde”.

A polícia diz que, na sua ação, prendeu 50 suspeitos de tráfico. Os criminosos, afirma, abasteciam a “feira livre” de drogas na cracolândi­a e usavam os próprios viciados para enfrentar os policiais.

Essa estratégia dos traficante­s está registrada em intercepta­ções telefônica­s.

O comandante-geral da PM de SP, coronel Nivaldo Cesar Restivo, disse que os policiais usados na região foram ampliados de 120 para 200. Eles ficarão dentro e no entorno da cracolândi­a. Esse contingent­e, diz, será empregado no policiamen­to ostensivo, e não na remoção de usuários.

“Esse efetivo está lá para manter as condições de estabilida­de alcançadas no final operação. A atuação da Polícia Militar em relação ao usuário é informar a prefeitura onde há aglomeraçã­o de dependente­s para que a ação de saúde e ação social seja direcionad­a para aquela local.”

Assim como ocorreu no domingo, nesta segunda viciados também se espalharam em vários pontos do centro.

Um desses locais era próximo da Sala São Paulo, na praça Júlio Prestes, e na avenida Duque de Caxias.

Dono de uma lanchonete no local há 30 anos, Nel Saad, 50, afirma que a ação apenas transferiu os problemas. “Se não colocarem em nenhum lugar os viciados, vai ser como tirar da minha casa e colocar na sua”, diz. A agente de turismo Denise Santos, 41, está otimista. “Tenho fé que que desta vez melhore. Os clientes não estavam mais vindo.” (ARTUR RODRIGUES, PAULO SALDAÑA E ROGÉRIO PAGNAN)

Após ter dito que a cracolândi­a tinha “acabado”, Doria atenuou o tom do discurso e passou a usar expressões mais semelhante­s às do governador Geraldo Alckmin (PSDB) —que tratou a operação na região como um “primeiro passo”.

Nesta segunda (22), Doria disse que a ação é contínua e que não se acaba com o consumo de drogas “com um passe de mágica”. “Tem que fazer o processo de abordagem e isso leva tempo. Não há milagre”, disse ele, rebatizand­o a área como Nova Luz.

O tucano também negou qualquer disputa com o governo durante a ação.

Sem o prefeito, Alckmin visitou novamente a cracolândi­a nesta segunda. Chegou a ser abordado na rua por dependente­s químicos.

“Temos que ter realidade de que não vai resolver em 24 horas. É uma questão crônica que envolve questão policial, social e de saúde pública”, disse.

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Fotos Marlene Bergamo/Folhapress Espaço municipal que recebeu dependente­s da cracolândi­a reunia à tarde usuários dormindo no chão e sem colchão
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Guardas municipais vistoriava­m pedestres para evitar entrada na cracolândi­a, no centro

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