Folha de S.Paulo

Joinville, em SC, quer dobrar uso de bike e 730 km de pistas exclusivas

Uso de bicicletas começou com imigrantes alemães e cresceu com expansão industrial

- JEFERSON BERTOLINI

FOLHA,

Sede da única escola do balé Bolshoi fora da Rússia, Joinville costuma ser lembrada como a cidade da dança. Mas há outra designação que seus moradores gostam de usar: cidade das bicicletas.

Joinville é a cidade mais populosa de Santa Catarina, com 569 mil habitantes. Segundo a Secretaria do Planejamen­to local, 11% dos deslocamen­tos no município são feitos com bicicletas.

No país, a média é de 6% para todas as cidades e de 3% para municípios com mais de 500 mil habitantes, segundo a ANTP (Associação Nacional dos Transporte­s Públicos).

A Prefeitura de Joinville diz que está trabalhand­o para elevar o percentual do uso da bicicleta para 20% nos próximos oito anos.

“Nos anos 1980, 20% dos deslocamen­tos da nossa cidade eram feitos de bicicleta. Estamos trabalhand­o para recuperar este patamar”, disse o secretário de Planejamen­to, Danilo Conti.

Segundo o dirigente, a prefeitura

DANILO CONTI

secretário de planejamen­to de Joinville está instalando bicicletár­ios, melhorando sinalizaçã­o e conectando trechos de ciclovias. A meta para 2025 é elevar os atuais 156 km de vias exclusivas para ciclistas para 730 km. FROTA Hoje, segundo estimativa da administra­ção, Joinville tem cerca de 250 mil bicicletas. Na média, há uma bicicleta para cada 2,2 pessoas.

A cidade tem 380 mil veículos, de acordo com o Detran (Departamen­to Estadual de Trânsito), ou um veículo para cada 1,4 morador.

A maioria das pessoas que usam bicicleta na cidade são homens com mais de 16 anos de idade, segundo pesquisa feita pelo governo municipal.

“Tem coisa melhor? A gente vai aonde quer sem depender de ninguém e não gasta nada”, disse o zelador João Cassiano, 66, que tem quatro bicicletas e pedala todos os dias para ir ao trabalho.

Questionad­os sobre a finalidade da bicicleta, 52% dos participan­tes da consulta disseram que a usam para lazer, 25% a utilizam para ir ao trabalho e 11% para ir à escola.

O levantamen­to diz ainda que 95% dos entrevista­dos gostam de bicicleta e que a adotariam como meio de transporte regular se as condições de tráfego e segurança melhorasse­m.

“A segurança é o principal motivo para deixar de usar a bicicleta. Hoje, pessoas que usam carro acham que as vias foram feitas para carros, mas as vias foram feitas para as pessoas, e as pessoas precisam ser a prioridade”, afirmou Dietmar Lilie, presidente do grupo Pedala Joinville.

Para André Geraldo Soares, diretor da União de Ciclistas do Brasil, faltam políticas públicas nas esferas municipal, estadual e nacional para ampliar e consolidar a cultura da bicicleta. FÁBRICA A relação de Joinville com as bicicletas começou há 166 anos, com a chegada dos primeiros imigrantes à região. “Nessa época, as primeiras formas de bicicletas já eram bem conhecidas dos alemães”, afirmou Valter Bustos, pesquisado­r e colecionad­or de bicicletas.

O uso se expandiu a partir

JOÃO CASSIANO, 66

zelador que tem quatro bicicletas e pedala todos os dias para ir ao trabalho de 1920 por conta do cresciment­o da indústria têxtil e da movimentaç­ão de operários. “Como o transporte de massas era precário, as bicicletas tomavam conta.”

Nos anos 1950, com nova expansão industrial, a relação de Joinville com a bicicleta cresceu ainda mais. “A bicicleta se tornou veículo de operário, era item de publicidad­e, com anúncio em jornal”, disse Fellipe Giesel, autor de um documentár­io sobre a história da bicicleta na cidade.

Em 1950, Joinville tinha 9,7 mil bicicletas e 46,5 mil habitantes, segundo dados do arquivo histórico municipal. Na média, havia uma bicicleta para cada 4,7 habitantes.

O título de uma reportagem publicada no jornal “A Notícia” no dia 5 de julho de 1975 demonstrav­a bem a importânci­a desse meio de transporte: “Automóveis atrapalham bicicletas”.

À época, Joinville chegou a registrar engarrafam­ento de bicicletas. As filas ocorriam todos os dias na saída dos operários da Tupy, a maior fundição da América Latina. O fenômeno se repete até hoje, em proporções menores.

Nos anos 1980, 20% dos deslocamen­tos eram feitos de bicicleta. Estamos trabalhand­o para recuperar este patamar “melhor que andar de bicicleta? A gente vai aonde quer sem depender de ninguém e ainda não gasta nada

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Divulgação Acima, cena de documentár­io sobre o uso de bicicleta na cidade de Joinville (SC); à dir., ciclista usa via exclusiva para bikes na cidade, que quer ampliar uso desse meio de transporte

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