Surfistas veem fuga de patrocínios devido à crise econômica no Brasil
Apoio de empresas é considerado fundamental para atletas se manterem no circuito
MERCADO
A crise financeira pela qual o Brasil atravessa tem feito com que vários esportes percam patrocinadores. Mesmo com uma das gerações mais vencedoras da história, o surfe brasileiro não é exceção.
Atletas têm enfrentado mais dificuldade para encontrar apoiadores para bancar os altos valores e participar do circuito mundial. Os próprios organizadores de campeonatos no Brasil têm encontrado problemas para fechar acordos comerciais.
Para viajar pelo mundo todo ao longo do ano, transportar pranchas e pagar hotéis e alimentação os atletas gastam em média R$ 40 mil por etapa do circuito mundial, totalizando às vezes mais do que R$ 440 mil para percorrer as 11 etapas do campeonato. Com gastos nesse patamar, é difícil bancar a carreira apenas com premiações.
“Fiquei um ano sem patrocinador principal [2016]. Foi muito difícil”, diz o surfista Jadson André, que apenas recentemente fechou contrato com a Toyolex, grupo de concessionárias do Norte e do Nordeste. Alguns copatrocinadores também o ajudam com equipamentos de surfe.
“O mercado está em uma crise geral. É triste ver uma turma sem patrocínio. Influencia na performance. Se você não está com um contrato legal, é inevitável pensar na
CAIO IBELLI
surfista brasileiro situação. Você deixa de pensar em treinar e surfar para ficar se preocupando com as contas no fim do mês”, diz.
O brasileiro Miguel Pupo vive essa situação. Ele é um dos atletas da elite do surfe com “bico branco” —expressão que faz alusão à falta de um patrocinador no bico da prancha, espaço com mais visibilidade para as marcas.
“A liga leva de 20 a 30 dias para pagar as premiações, e isso pode prejudicar no fluxo das viagens”, afirma o surfista, que nos últimos anos foi patrocinado pela marca americana Hurley’s. Segundo ele, a empresa apresentou a crise econômica como motivo para encerrar a parceria.
“É um absurdo pensar que tem gente no ranking dos 32 melhores do mundo sem patrocínio, ainda mais entre os brasileiros, que somos nove. Tínhamos que todos ter a prancha inteira adesivada. A crise está afetando muito o esporte”, afirma Caio Ibelli, que perdeu o patrocínio de Furnas, estatal de energia.
O valor pago por patrocinadores para exibir suas marcas na borda da prancha costuma ficar entre R$ 8 mil e R$ 15 mil mensais, ao passo que a exibição no bico de prancha está entre R$ 30 mil e R$ 50 mil por mês. Por ser o mais midiático, Gabriel Medina tem contratos melhores.
Jaime Medina, tio e assessor pessoal de Gabriel, diz que a crise não levou à perda de patrocinadores do atleta.
Mesmo assim, afirma ter percebido uma diminuição na procura por participação em campanhas publicitárias.
Até mesmo Mineirinho, campeão em 2015, sofre com os efeitos da crise. Dois patrocinadores brasileiros deixaram de apoiá-lo: a XP Investimentos e o grupo educacional Estácio. Outros dois pediram redução de valores.
“Vejo atletas de outros esportes sofrendo com isso também. Tive perdas e reduções, mas isso não abala minha performance”, afirma.
A Folha entrou com contato com as empresas que deixaram de patrocinar os atletas. A XP Investimentos disse que “no plano de mídia desse ano não estava contemplado patrocínio a esporte, pois optamos em direcionar o orçamento para outros tipos de mídias”, negando relação com a crise do país.
Furnas apresentou argumento semelhante: “Furnas está redefinindo seu portfólio de patrocínios esportivos, cuja prioridade passa a ser ações de inclusão e transformação social”. A Estácio e a Hurley’s não responderam aos contatos da reportagem.
“pensar que tem gente no ranking dos 32 melhores do mundo sem patrocínio, ainda mais entre os brasileiros. Tínhamos que todos ter a prancha inteira adesivada