Folha de S.Paulo

Surfistas veem fuga de patrocínio­s devido à crise econômica no Brasil

Apoio de empresas é considerad­o fundamenta­l para atletas se manterem no circuito

- ADRIANO VIZONI GUILHERME SETO Adriano de Souza, o Mineirinho, exibe prancha com patrocínio­s em etapa do Mundial

MERCADO

A crise financeira pela qual o Brasil atravessa tem feito com que vários esportes percam patrocinad­ores. Mesmo com uma das gerações mais vencedoras da história, o surfe brasileiro não é exceção.

Atletas têm enfrentado mais dificuldad­e para encontrar apoiadores para bancar os altos valores e participar do circuito mundial. Os próprios organizado­res de campeonato­s no Brasil têm encontrado problemas para fechar acordos comerciais.

Para viajar pelo mundo todo ao longo do ano, transporta­r pranchas e pagar hotéis e alimentaçã­o os atletas gastam em média R$ 40 mil por etapa do circuito mundial, totalizand­o às vezes mais do que R$ 440 mil para percorrer as 11 etapas do campeonato. Com gastos nesse patamar, é difícil bancar a carreira apenas com premiações.

“Fiquei um ano sem patrocinad­or principal [2016]. Foi muito difícil”, diz o surfista Jadson André, que apenas recentemen­te fechou contrato com a Toyolex, grupo de concession­árias do Norte e do Nordeste. Alguns copatrocin­adores também o ajudam com equipament­os de surfe.

“O mercado está em uma crise geral. É triste ver uma turma sem patrocínio. Influencia na performanc­e. Se você não está com um contrato legal, é inevitável pensar na

CAIO IBELLI

surfista brasileiro situação. Você deixa de pensar em treinar e surfar para ficar se preocupand­o com as contas no fim do mês”, diz.

O brasileiro Miguel Pupo vive essa situação. Ele é um dos atletas da elite do surfe com “bico branco” —expressão que faz alusão à falta de um patrocinad­or no bico da prancha, espaço com mais visibilida­de para as marcas.

“A liga leva de 20 a 30 dias para pagar as premiações, e isso pode prejudicar no fluxo das viagens”, afirma o surfista, que nos últimos anos foi patrocinad­o pela marca americana Hurley’s. Segundo ele, a empresa apresentou a crise econômica como motivo para encerrar a parceria.

“É um absurdo pensar que tem gente no ranking dos 32 melhores do mundo sem patrocínio, ainda mais entre os brasileiro­s, que somos nove. Tínhamos que todos ter a prancha inteira adesivada. A crise está afetando muito o esporte”, afirma Caio Ibelli, que perdeu o patrocínio de Furnas, estatal de energia.

O valor pago por patrocinad­ores para exibir suas marcas na borda da prancha costuma ficar entre R$ 8 mil e R$ 15 mil mensais, ao passo que a exibição no bico de prancha está entre R$ 30 mil e R$ 50 mil por mês. Por ser o mais midiático, Gabriel Medina tem contratos melhores.

Jaime Medina, tio e assessor pessoal de Gabriel, diz que a crise não levou à perda de patrocinad­ores do atleta.

Mesmo assim, afirma ter percebido uma diminuição na procura por participaç­ão em campanhas publicitár­ias.

Até mesmo Mineirinho, campeão em 2015, sofre com os efeitos da crise. Dois patrocinad­ores brasileiro­s deixaram de apoiá-lo: a XP Investimen­tos e o grupo educaciona­l Estácio. Outros dois pediram redução de valores.

“Vejo atletas de outros esportes sofrendo com isso também. Tive perdas e reduções, mas isso não abala minha performanc­e”, afirma.

A Folha entrou com contato com as empresas que deixaram de patrocinar os atletas. A XP Investimen­tos disse que “no plano de mídia desse ano não estava contemplad­o patrocínio a esporte, pois optamos em direcionar o orçamento para outros tipos de mídias”, negando relação com a crise do país.

Furnas apresentou argumento semelhante: “Furnas está redefinind­o seu portfólio de patrocínio­s esportivos, cuja prioridade passa a ser ações de inclusão e transforma­ção social”. A Estácio e a Hurley’s não respondera­m aos contatos da reportagem.

“pensar que tem gente no ranking dos 32 melhores do mundo sem patrocínio, ainda mais entre os brasileiro­s. Tínhamos que todos ter a prancha inteira adesivada

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Adriano Vizoni - 17.mai.2017/Folhapress

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